Coaracy Fonseca é promotor de Justiça e ex-procurador-Geral de Justiça em Alagoas
As declarações do Presidente Bolsonaro em relação ao falecido pai do Presidente da OAB nacional, Carlos Alberto do Santos Cruz, não foram impensadas.
A meu ver, cuida-se, talvez, de uma tentativa de revisionismo histórico, que alguns segmentos de extrema de direita procuram impor, assim como tentam fazer com o modo de vida das pessoas.
Nos países do primeiro mundo não se admite como versão aceitável e séria qualquer estudo que tente negar o Holocausto.
Houve algumas tentativas frustradas, repelidas veementemente.
Assim, mudando o que deve ser mudado, a Ditadura Militar representou um mal terrível para o Brasil, momento de muito sofrimento e dor para centenas de famílias, e do mais completo desrespeito aos direitos e garantias individuais, dentre os quais o direito de ir e vir, à vida e à liberdade de expressão.
É bem possível, que nessa “revolução cultural” à brasileira esteja incluído no pacote o revisionismo histórico, a negação de fatos como o atentado ao Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, em abril de 1981, onde centenas de jovens seriam assassinados por integrantes do Exército brasileiro e o famigerado AI-5 que excluiu o direito ao remédio heróico do habeas corpus.
A nossa história há de ser respeitada para que as atrocidades daquela época não venham a se repetir, e também o sofrimento imenso dos familiares das vítimas da Ditadura, mortos, desaparecidos e presos ilegalmente, numa demonstração flagrante de arbitrariedade estatal.
Chega!
O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Eros Grau, relator da ADI da Lei da Anistia (hoje entendo), agiu com grande sabedoria ao defender a constitucionalidade da Lei, que não passou, diga-se de passagem, pelo teste de convencionalidade na Corte Interamericana de Direitos Humanos, com base no Pacto São José da Costa Rica.
Perdoar é um exercício sublime, porém difícil. A exemplo do Santo Papa João Paulo II que perdoou Mehmet Ali Agca, autor do atentado que quase lhe ceifou a vida e deixou sequelas profundas, nós cristãos ou praticantes de outros cultos, que sofremos com as atrocidades da Ditadura Militar, devemos exercer o sentimento sublime do PERDÃO, para seguirmos adiante.
Todavia, sem esquecermos, jamais, a nossa história.
O Estado não tem o direito de forçar, sutilmente, um revisionismo sem lastro na realidade, e, noutro giro, não é este o seu papel.
A Constituição Federal de 1988 que se encontra ainda em vigor foi o resultado de muito sangue, suor e lágrimas.
Um documento de compromisso.
Exercitemos o PERDÃO, mutuamente, e lutemos, todos, por um Brasil melhor para as presentes e futuras gerações.