Ícone do site Repórter Nordeste

Coaracy Fonseca: O autista que existe em você

Coaracy Fonseca- é promotor de Justiça e ex-procurador Geral de Justiça 

Ao realizar uma visita a um Centro Estadual dedicado à educação especial, de crianças com espectro autista (TEA) e outras deficiências cognitivas e intelectuais, deparei-me com uma realidade nua e crua, que andava escondida nos papéis da burocracia.

Sou visual e auditivo. Desde criança sempre tive a facilidade de diagnosticar situações existenciais com um olhar, mesmo que rápido, e identificar sons, sentir e distinguir a vibração de cada instrumento, além da voz humana, por isso não consigo viver sem música.

Mas o silêncio, naquela oportunidade, tocou forte os ouvidos do coração e os olhos captaram imagens que me deixaram assustado.

As crianças pareciam escondidas do olhar social, num bairro nobre da nossa Capital, a Pajuçara, ocupavam um gueto.

Iniciei, com o apoio de colegas do MPAL, um trabalho de comunicação institucional e passamos a ouvir a fala ( e desabafos) de todos os interessados: corpo docente, mães dos discentes e do próprio Secretário de Educação, que nos recebeu de modo lhano e democrático.

Mas o que me deixou com um certo desnorteio foi a constatação da ausência de um projeto pedagógico formatado, além da completa inadequação do espaço educacional, apesar de amplo.

O Centro existe há 23 anos. Mas nada avança sem planejamento e metas definidas, além do interesse governamental.

Já sou um velho promotor de Justiça, sem a força e a disposição física e intelectual dos meus 26 anos de idade.

Só me restou a experiência do caminho percorrido, a vontade de fazer e a capacidade de dialogar e, então, comecei a minha peregrinação à busca de especialistas no assunto.

Conseguimos um belo depoimento do Dr. Emanoel Fortes, ouvimos pedagogos, médicos, e vários profissionais visando o imprescindível aprofundamento sobre o tema, pois sem o saber é impossível progredir no campo da prática. 

Como nada acontece por acaso, recebi o telefonema do amigo Elias Ferreira, notável jornalista e comunicador, também advogado, que passou a ocupar a Comissão de Pessoas com Deficiência da OAB/AL, que manifestou adesão ao projeto a ser construído.

Estive na Receita Federal conversando com um dedicado pai de uma criança autista, que me passou indicações e dados essenciais.

No Brasil, de 1 (uma) em cada 110 (160) crianças é portadora do TEA. “Nos EUA, a rede CDC ( Centro de Controle e Prevenção de Doenças), no seu mais recente relatório, apontou para a existência de 1 (uma) em cada 59 crianças.

Os níveis variam entre o leve, moderado e grave.São várias as comorbidades.

Por isso a importância do diagnóstico precoce e das adequadas abordagens médica e pedagógica.

Portanto, a questão ultrapassa o problema de infra-estrutura de um Centro de Educação e requer a atenção de toda a sociedade.

Daí uma pergunta se impõe: você tem observado o comportamento do seu filho?Não!? Então vamos conhecer melhor sobre o TEA, um transtorno que pode estar muito próximo de você.

Engaje-se nesta luta cívica que está recomeçando para valer.

Sair da versão mobile