Coaracy Fonseca é promotor de Justiça e ex-procurador Geral de Justiça
O talento de professor é algo inato, muito embora seja possível aprender a transmitir ideias com eficiência e objetividade.
A eloquência vai além das palavras soltas. Cícero convencia; Demóstenes levava à ação, ambos grandes oradores da história, do mundo greco-romano.
O bom professor faz discípulos, e posso dizer que tive grandes mestres do direito penal, a exemplo de Vicentina Vasco, Antônio Aleixo e Dilmar Camerino.
Estudei na época do direito clássico, dos grandes doutrinadores.
Os livros não eram escritos para concursos (sem nenhum preconceito), as luzes que espraiavam iluminavam a vida, verdadeiros alicerces dos juristas.
Hoje temos uma profusão de obras descomplicadas, que não ensinam a pensar.
É verdade que a doutrina caminha com o evolver da vida, mas as bases são cimentadas pelos clássicos, como anotou Calvino.
Dilmar Camerino tinha e tem o grande mérito de traduzir o mais intrincado da doutrina jurídica sem separá-la da filosofia e de outras disciplinas ancilares.
Vivemos uma época de opinadores, dos influenciadores de massas que muito falam e pouco dizem. A experiência é um quase vazio de bons fundamentos.
Questões jurídicas de grande relevo têm sido agitadas no ambiente virtual sem o necessário aprofundamento, valem-se, em demasia, do argumento de autoridade, que na escala da argumentação é dos mais frágeis.
O saudoso jornalista Heitor Cony, pelo uso da palavra escrita, foi indiciado por crime contra a segurança nacional.
De repente, já preocupado, ouve o telefone tocar e, para sua surpresa, recebeu do outro lado a palavra de Nelson Hungria oferecendo pro bono os seus serviços de advogado que, de logo, foram aceitos sem hesitação.
As coisas não andavam bem para Cony. Ocorre que a intervenção do príncipe dos penalistas brasileiros mudou completamente o quadro, o mestre comprovou ao Pretório Excelso, nos tempos de chumbo, a completa ausência de tipicidade da conduta do grande jornalista.
Cony havia subido no ombro de um gigante.
Hoje aos 30 anos de carreira jurídica não ouso opinar sobre direito penal, paixão da minha juventude.
Mas, se um dia resolver dizer algo acerca da matéria, não hesitaria em subir nos ombros de Dilmar Camerino, cujas lições restam vivas no meu espírito, no sentimento cujo tempo não destrói.
Ao grande mestre, com os meus melhores cumprimentos.