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Coaracy Fonseca: A Loucura de Deus

Coaracy Fonseca é promotor de Justiça e ex-procurador Geral de Justiça


“Acaso não declarou por loucura a sabedoria deste mundo, com sua sabedoria não reconheceu a Deus na sabedoria divina”.

Ouço falar, com certa frequência, que as pessoas não estão preparadas para ouvir a verdade.

Resisti muito a acreditar nesta singela assertiva, até ser direcionado à leitura do Apóstolo Paulo em sua Epístola aos Coríntios.

É preferível viver na ilusão, na sombra, do que ouvir e refletir sobre o que realmente acontece no mundo, pois o entendimento leva à reação ou a covardia, a omissão travestida de pusilanimidade.  

Li em um semanário local que um brilhante anestesista pulou de seu apartamento em um edifício no bairro da Ponta Verde e veio a óbito, em razão da queda. Fala-se em suicídio.

O que levou um homem, muito conceituado em sua profissão, que salvava pessoas da morte a destituir-se da própria vida?

Várias hipóteses permeiam o meu pensamento ao escrever esta crônica, prefiro não transmitir quaisquer delas. 

Mas ouso afirmar: o renomado médico não era um psicopata.

Os psicopatas não cometem suicídio, pois são destituídos de sentimentos e emoções.

Segundo uma renomada psicanalista há um terreno fértil no qual transitam com facilidade os psicopatas: a política.

E as pessoas são fascinadas por eles, pois parecem incorporar o padrão de normalidade almejado por uma sociedade que se tornou doente, mas assim não se reconhece.

Ora, como justificar que em pleno Século XXI grandes cidades brasileiras não tenham saneamento básico, que evitaria um sem número de doenças? Que nossas escolas, algumas delas, pareçam verdadeiros presídios? Uma judicialização da saúde sem limites, que leva à contratação direta, tangenciando os procedimentos licitatórios?

Enfim, como justificar tanta corrupção, que se retroalimenta da miséria, que leva aos programas sociais, verdadeiros sorvedouros do dinheiro público?Isso é coisa de louco.

Não, é coisa de gente normalzinha, dentro do padrão socialmente aceitável.

Os loucos não seriam tão insensíveis à dor humana.

Por isso, em muito boa hora, veio à luz o Estatuto da Pessoa com Deficiência, para protejer os “loucos de todo gênero”, expressão do Código Civil de 1916, das pessoas normais.

Winston Churchill, dizem as biografias, era um bipolar. Salvou com a sua excepcional inteligência e memória o Mundo de uma grande catástrofe. Tinha muitos defeitos e atitudes estranhas: bebia muito whisky, diariamente, e passava dias em sono profundo, talvez a meditar.

Escreveu, de próprio punho, a sua história, não delegou esta tarefa a terceiros.

Era um sujeito muito desconfiado e um pouco paranóico. Teve uma grande mulher ao seu lado. Mas, voltando ao tema central desta crônica, que já se faz longa: “a loucura de Deus é mais sábia do que a loucura dos homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que a dos homens.”

Atentai bem!

Rendo as minhas homenagens póstumas ao médico Ricardo Sampaio Mendonça e condolências a sua família.

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