Chávez aparece em fotos, mas tem dificuldades para falar

Foto:Reprodução

BBC

O governo da Venezuela apresentou nesta sexta-feira as primeiras fotografias do presidente Hugo Chávez desde que viajou a Havana, há mais de dois meses, para se tratar de um câncer.

Nas fotos, Chávez aparece deitado em uma cama ao lado das duas filhas, Maria Gabriela e Rosa Virgínia, que o acompanham desde que viajou a Cuba, no início de dezembro.

De acordo com um comunicado lido pelo ministro de Comunicação venezuelano, Ernesto Villegas, o presidente tem dificuldades para falar e respira com a ajuda de uma traqueostomia, devido a sequelas da infecção respiratória adquirida após uma cirurgia para combater o câncer.

“A infecção respiratória (…) foi controlada, mas ainda persiste um certo grau de insuficiência. Devido a essas circunstâncias, que estão sendo devidamente tratadas, o presidente Chávez respira através de cânula traqueal, que lhe dificulta temporariamente a fala”, afirmou Villegas, em pronunciamento transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão.

O governo disse ainda que a equipe médica aplica “tratamento enérgico” para combater o câncer e que sua aplicação “não está isenta de complicações”.

Rumores

Em uma das fotografias, Chávez aparece segurando o diário cubano Granma da quinta-feira, para mostrar a veracidade da data em que a imagem teria sido feita. A traqueostomia não é visível na foto, já que parte do pescoço de Chávez está coberta pela jaqueta esportiva que passou a utilizar desde que adoeceu.

Essas são as primeiras imagens do presidente desde que foi operado em 11 de dezembro para extração de um novo tumor na região pélvica, sua quarta cirurgia em um ano e meio.

O governo afirma no comunicado que, depois de dois meses de um “complicado processo pós-operatório”, Chávez “se mantém consciente, em completa integridade de suas funções intelectuais e em estrita comunicação com sua equipe de governo”.

A divulgação das fotografias e de novos detalhes sobre o estado de saúde do presidente deve atenuar a tensão no país e dissipar rumores sobre uma piora na saúde de Chávez, como boatos de que teria voltado à UTI (Unidade de Terapia Intensiva) devido a novas complicações. Nas redes sociais, falsos documentos falavam da morte do presidente venezuelano.

Acostumados com a onipresença do presidente, os venezuelanos estranhavam o fato de Chávez não ter feito nenhuma ligação telefônica para o país – como ocorreu nas operações anteriores – para dar conta de seu estado de saúde e de sua recuperação.

“Com certeza alguma coisa o impede de falar, se não, já teria ligado para dar alguma notícia, algum sinal”, disse, em tom preocupado, o jornaleiro Pedro Contreiras, horas antes do comunicado do governo.

Regresso

O governo não informou, porém, quando Chávez poderá regressar ao país. Sua prolongada ausência aumenta o clima de incerteza quanto ao futuro da Presidência.

Na figura do vice-presidente e eventual sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, o governo se esforça para preencher o “vazio” deixado pelo líder e tenta mostrar que o Executivo continua funcionando no mesmo ritmo, sem riscos à governabilidade.

A oposição, por sua vez, critica o hermetismo com o qual têm sido tratadas as informações relacionadas à saúde do presidente.

Oposicionistas organizaram um protesto a algumas quadras da embaixada cubana em Caracas acusando o governo de Havana de ingerência nos assuntos internos do país. Outros dirigentes chegaram a afirmar que Chávez estava “sequestrado” pelos irmãos Castro em Havana.

De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria GIS XXI, 54% dos venezuelanos afirmam que preferem esperar a recuperação de Chávez a “forçar” outro tipo de saída para o dilema político em que o país se encontra.

Outros 38% dizem que o líder venezuelano deve renunciar ao cargo e convocar novas eleições. O restante aposta na intervenção de uma junta médica para avaliar as condições de saúde do mandatário e que, com base nessa avaliação, uma decisão seja tomada.

Em 8 de dezembro, Chávez admitiu que a reincidência de seu câncer poderia afastá-lo da vida política e apontou Maduro como seu sucessor político.

Desde então, Chávez não havia sido visto ou ouvido em público. Membros de seu gabinete, no entanto, afirmam que ele continua à frente da Presidência e que está dando ordens.

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