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Caso Aparecida: aos vencedores as batatas!

Tenho construído a sobrevivência ética com pequenos valores, alguns mais endurecidos para servirem como escudos e outros flexíveis, tocados pela sensibilidade social, para motivar o passo seguinte. Assim tem sido a assunção de uma alagoanidade à margem do que se convencionou chamar de “vencedores”. Caminhar entre os “perdedores” tem sido o mote deste fecundo estudo que posso fazer sem buscar a validação daqueles vitoriosos.

Cada vez mais abertos, meus olhos contemplam essa terra ferir!

Fere homens, mulheres, crianças, pessoas idosas.

Arranca sangue, lágrimas e tudo deposita na heresia dos altares que abençoam justificativas.

Já estive neste altar, exangue e exposta, ferida e meio morta, com um corpo culpado no colo, sem vida e sem defesa, mas as minhas lágrimas não sensibilizavam as pessoas boas de Alagoas.

Mergulhei sem parar de lutar, conheci o fundo do poço e senti o visgo da lama zombar da minha condição de mãe de morto.

“O culpado sempre é o morto” disse o jornalista “amigo”.

O pai falou demais, ponderou o intelectual “inteligente”.

Uma cesta básica encerra os crimes, sentenciou um magistrado jovem, próspero e certamente bom, que tinha sua família crescendo vigorosa e protegida em algum recanto florido da cidade.

Morre o incômodo e o compadrio amortece consciências.

Lei aqui é acessório para ser usado quando convém?

Mais uma vez, eu posso falar porque sobrevivi!

Voltando ao caso já emblemático da prisão esquecida da jornalista Maria Aparecida, que há uma semana faz Alagoas trocar frases de compadrio e reforço na manutenção da injustiça, recordo frases que chegaram aos meus ouvidos, justificando a punição por justiçamento.

“Fez a juíza chorar”.

“Deixou a amiga em depressão”.

“Incomodou gente grande”.

Crimes hediondos, por certo! Sentidos pela sociedade que nunca enxugou as lágrimas das mulheres tornadas periféricas, em seus martirológios anunciados.

Aquelas mulheres não podem chorar sem movimentar estruturas inteiras em defesa dos seus transtornos, mas estas, que carregam filhos vencidos no ventre e na alma secarão suas bolsas lacrimais, em vertentes perenes, ao sabor do tempo e do vento, sem consolo.

Piedade para quem?

Este drama pode acolher sua omissão, sociedade alagoana, mas a minha escrita fará registro dela.

Estarão as instituições lutando por um roçado de batatas?

Historiografar este momento é tão nobre como é certo afirmar, que no fim do drama, aos vencedores restarão as batatas!

 

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3 respostas

  1. Gd Odilon Rios sofremos amordaçado com a dor pq qd a colocamos para muitos ouvirem só escultamos a defesa dos gds e senhores de engenhos.Lembro até hj a voz de um político no caso do assassinato da minha filha onde o mesmo disse-me e Olguinha infelizmente ela estava em um local arriscado imagem em u órgão que se tem segurança.So vc e a Maria Aparecida deram voz a minha dor a expressando nas redes sociais.Obrigado

  2. Companheiro, acredito que a ignorância, o medo ou a covardia vão perpetuando a maldade dos ainda senhores de engenhos desse Estado. Precisamos, através da luta cotidiana, dá voz aos sem voz e coragem aos moles pra ver se conseguimos descontrair essa lógica de impunidade e vingança.

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