BLOG

Carnaval do sossego, o Xangô Rezado Alto, o grito do silêncio

cuidados-com-a-voz-3

O “carnaval do sossego” em Maceió é a alegoria das decisões do trade turístico, fenômeno que não é invenção nossa. O Galo da Madrugada, em Recife, é transmitido pela TV mas o espaço público é privatizado.

Tudo em nome dos negócios, mesmo que estes negócios enterrem a tradição das festas, o brilho do nosso povo, o chamego do moleque namorador, nossas escolas de samba ou os remendos dos laursos.

O “carnaval do sossego” é um negócio. O volume baixo do ritmo nos oito polos da capital serve para que turistas lotem hoteis, pousadas, hosteis, em nome do “descanso”.

Isso no mês em que as ruas fazem o Xangô Rezado Alto- lembrança da opressão religiosa no Quebra de 1912. Pede-se que os bairros na capital abaixem os gritos de felicidade, contenham a emoção para que o bloco do silêncio possa passar.

E os nossos intelectuais ganham ares provincianos: após o grito dos tambores no início de fevereiro, eles seguem aos balneários e entregam-se às determinações inventadas por alguém nas eras Cícero Almeida e continuadas em tempos de Rui Palmeira 2.0.

O barulho da senzala deixa, então, de ser tolerado. Voltamos a ser o que não fomos.

A quem estiver cansado do calor do Centro de Recife apinhado de gente no desfile do Galo ou quer estar longe do furdunço no sábado de Zé Pereira no Farol da Varra, faz-se um puxadinho para a capital alagoana porque as proibições para os barulhos encontram acolhida social.

Tudo em nome dos negócios, dinheiro retido na orla da capital.

O “carnaval do silêncio” só é quebrado para quem tem grana para fugir do ar monástico.

Até que venha o próximo carnaval, abrindo as nossas prévias para as festas que não existem e o Xangô Rezado Alto, nossa forma moderna de dançar e pular nos cercados da senzala, até o grito de silêncio soprado pelos lábios dos “negócios”.

SOBRE O AUTOR

..