Haverá ainda algum espaço para narrativas românticas sobre o carnaval? Cada versão anual vem mostrando o quanto o poder local se apropria da festa usando dinheiro público para reforçar o caráter personalista dos gestores.
Poucos lugares conseguem emplacar a vontade e o gosto de quem ainda compreende a festa momesca como cultura, destacando criatividade e irreverência, liberando até mesmo os divertidos protestos.
Estes nichos recebem os apaixonados por folia, que conseguem comprar pacotes em hotéis e outras formas de agrupar em volta da proposta de alegria.
Quem fica em casa, principalmente nos municípios mais interiorizados, não encontram margens de opção, a não ser seguir os blocos organizados pelos vereadores e prefeitos, sempre irradiando aquilo que eles desejam para o povo, com doações de abadás e demonstração de força política, com músicas que nenhuma alusão fazem aos festejos e muito incentivo ao consumo de bebidas como benefício dos organizadores.
No final teremos uma grossa camada de gratidão espalhada pelas ruas, e os ícones do carnaval se transferem, de momo para político oportunista, inimigo da cultura e promotor da dependência dos seus eleitores.
Se neste carnaval você conseguiu encontrar a irreverência dos brincantes como estigma de libertação e não seguiu ditames de festa política concentrada na figura do gestor público, saiba que experimentou o puro suco da resistência cultural!
Em algum lugar desse país ainda foi possível resistir junto ao carnaval, mas isto se torna cada vez mais a exceção.