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Carlos Chagas: A dimensão das fraquezas humanas

Carlos Chagas

Até chapéu de vaqueiro ele pôs na cabeça para chamar  a atenção. Marcou lugar na primeira fila do auditório de mil pessoas, defronte ao Lula, a Dilma, a Rui Falcão e muitos  ministros, além de convidados especiais.  Claro que foi visto e notado. Formaram-se filas de companheiros para cumprimenta-lo, no plenário, mas lá de cima, nem um piscar de olhos. Não foi citado pelo mestre de cerimônias ou por qualquer orador, a começar pela presidente e o ex-presidente da República. Muito menos viu-se convidado a integrar a mesa que dirigiu os trabalhos, apesar de haver presidido o partido por longos anos.

A imprensa registrou que pelo menos dois ministros passaram por ele, na entrada, simplesmente ignorando-o. Por artes do serviço de segurança, os fotógrafos e cinegrafistas não conseguiram aproximar-se para aquele flagrante obrigatório ditado pelas circunstâncias, que seria ele de costas em primeiro plano e, ao fundo, os donos do poder.

Falamos de José Dirceu e da festa dos dez anos do PT no governo, quarta-feira. De graça, essas coisas não acontecem, quer dizer, tudo foi organizado para omitir o outrora herdeiro presuntivo do Lula, hoje condenado a dez anos de cadeia pelo Supremo Tribunal Federal. O mesmo verificou-se com outros dois sentenciados, José Genoíno e João Paulo Cunha, fora da primeira fila.
A glória é tão efêmera quanto a ingratidão é farta. Na verdade, o PT acaba de rejeitar seus filhos antes queridos e bajulados. Durou pouco a tentativa de fazê-los mártires e de levar o Judiciário ao pelourinho. Sobrou cautela, faltou coragem na festa de quatro dias atrás.
No recôndito das celas que em breve ocuparão, os três companheiros condenados, mais o quarto, Delúbio Soares, que não compareceu, terão tempo para meditar na dimensão das fraquezas humanas. Em sigilo, fora das luzes, parece que já foram recebidos, semanas atrás, pelo primeiro-companheiro, mas na noite capaz de renovar-lhes a solidariedade e o sentimento de inocência, nem pensar. Estarão na dúvida se não foram mesmo culpados…
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