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Caos social alagoano

O termômetro do cotidiano pode ser chamado “rua”, com os sons e os riscos que hoje lhe caracterizam.

Os que jamais descem dos carros e dos pedestais, compreenderão cada vez menos a dinâmica da sociedade, pelo lado de cá, onde os indivíduos são de carne e osso e choram lágrimas de sal.

Maceió se alarga em contrações e sofrimentos, a cada dia. As ruas manifestam cada parto. Cada nova miséria. Todas as desesperanças de um povo que mal consegue tornar-se adulto.

A oralidade dispersa das calçadas. O senho franzido da descrença. Mulheres e homens a vagar, numa solidão cheia de rostos, todos indiferentes e voltados para as bandas do nada.

Quem se crê possuidor, não enxerga as ruas.

A riqueza de quem não tem dinheiro pode ser simbólica. Até a cultura nos separa.

Bajuladores e hipócritas lotam as salas cobertas de carpetes. O ar-condicionado protege as autoridades do ar livre e poluído das ruas enfeitadas de esgotos a céu aberto.

O Riacho Salgadinho lambe ao longe o prédio do Ministério Público do Estado de Alagoas, sede do direitos públicos, cravado no chão quente de Maceió.

O abandonado bairro de Jaraguá silencia diante da Prefeitura Municipal de Maceió, sua solidão saudosista, dos tempos de uma boemia que nada mais justifica.

A bela orla lagunar joga ao vento os ares pútridos das fossas que desaguam em suas entranhas geradoras de peixes e sururus. À sua volta, pululam o tráfico, o sexo, o crime. Cenário esquecido. Útero ativo, gerando sonhos perdidos.

Nas fortes ondas da praia de Cruz das Almas, a crucificação da nossa urbana covardia: esgotos, corpos em oferta diária, sob a vistoria dos coqueirais, tornados cúmplices das agruras noturnas de suas damas e travestis.

Crianças empobrecidas. Mentalidades contaminadas. Representações vendidas. Estado pífio, corrupto. Elementos desenhados nas calçadas…

Jovens viciados. Dificuldades de locomoção, ônibus velhos e passagens caras. Sem saúde ou alimento. Sem escolas suficientes, sem educação. Elementos dispersos na poeira das ruas…

Quantos livros são necessários para nos fazer entender as políticas do caos social alagoano?

SOBRE O AUTOR

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