(Ofereço as negras Tonha Balbina (minha infância) Dona Biu ( minha adolescência e juventude) Pai Zé e Aninha (minha vida adulta) todos na espiritualidade após vivenciarem as duras e sagradas experiências terrenas sob a dor da brasilidade negra). Aos últimos, que já conheci desencarnados, a gratidão pelo consolo que me trouxeram!
Negritude, o que és?
Um balanço no samba, um tambor a tocar, convidando as gentes à magia de fazer acontecer a luz?
O que és, a esquecer o açoite e o frio das senzalas, nos salões de beleza a te transformar em vitrine?
O que é negritude livre, quando as amarras ainda não afrouxaram:
não há estudo;
não há saúde;
não há moradia;
não há emprego;
não há salário;
não há amor para tod@s?
Negritude que a polícia executa sem temer a justiça, pois justiça não há.
Pelourinhos institucionais acorrentam teu nome, tua tez, tua nudez.
Como aprendeste a arte de libertar?
As universidades te cercearam a liberdade de falar de si mesma, vendendo teus lotes sob os holofotes da intelectualidade parva.
Desperta, a luta não tem fim.
Liberdade é ave fugidia. As gaiolas dos patrões, dos mandatários, dos ricos latifundiários, disputam a beleza do teu canto triste.
Terra brasileira é carinho a sete palmos, abraçando o corpo negro destroçado pelo abandono, pelo crime, pelo tráfico, pelo ódio de cor branca.
Tem moleza não! Poesia é ave fugidia.
Exilada da nação, visita furtivamente alguns subversivos.
Negritude não tem passagem livre.
Não é uma bunda negra requebrando, uma boca vemelha se amaciando, um corpo de mulher sendo submetido ao gozo.
Negritude é uma asa em vôo rasante; um sonho de preto velho sentado na pedra, apreciando os bichinhos formados pelas nuvens a lamentar o fascínio que corrompe a juventude.
Treze de maio é dia-símbolo!
Brasil que canta, dança e estoura fogos de artifícios, sem dominar a arte de reconhecer as máscaras mais sutis da opressão, ainda tão presente e arrogantemente, institucionalizada, celebra a dor feita história negra!
Negras batalhas findadas em sangue.
Negros silenciados, cravando no peito a saudade dos amores não vividos.
Lei brasileira é como bula de remédio, a gente sabe que existe mas não entende nada do que ela diz; pois o que vale mesmo é o efeito da droga.
Pode intoxicar a gente, pode curar ou amenizar a dor, pode até matar.
Não há lei que cure preconceito.
Só as condutas humanas os transformam na superação da ignorância ou da comodidade seletiva que os alimenta.
O que negritude em Maceió, a sepultar dezenas de meninos negros nos dias de segunda-feira?
Quem os tirou das carteiras escolares? Quem não os conduziu ao sonho de realização pessoal, capaz de impulsionar suas vidas até o futuro?
A dor escorre sangrenta do peito amplo da mãe-preta!
Seus filhos não vivem.
Seus netos estão ameaçados.
Negritude resiste à destruição em quantas histórias do Brasil?
Suas flores retiradas da haste deixam seiva abundante, mas os frutos da escravização é amargo, intragável.
Qual é a verdadeira cor da nossa Consciência Negra?
Quem Abolirá a nossa Escravatura?
Quantas vidas, mais, serão necessárias para desarticular a farsa da liberdade brasileira?
Negritude é caminhar sobre as pedras levemente e escrever no tempo essa poesia de luta, sempre!