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Caminho para o equilíbrio nos royalties

O Globo

A questão dos royalties de petróleo e gás  voltará à pauta da Câmara dos Deputados, por decisão da mesa diretora da  Casa, atendendo a pressões políticas de governadores de estados não  produtores. Tais governantes desejam pôr as mãos, o quanto antes, em uma  parte da receita que se destina hoje aos chamados estados e municípios  “confrontantes” – terminologia adotada por eles para descaracterizar a  plataforma continental como região produtora vinculada aos entes  federativos – à produção de óleo e gás no mar. Pela fórmula aprovada no  Senado, a receita atual seria “congelada” e até passaria a decrescer, em  seguida, de modo que os estados e municípios produtores ficariam apenas  com o ônus do aumento de produção e não mais com o bônus adicional.

Além  de discriminatórios, desrespeitosos e injustos com esses entes  federativos – Rio de Janeiro e Espírito Santo, principalmente, com São  Paulo também figurando na lista a partir deste ano -, os royalties e as  participações especiais fogem, pela fórmula do Senado, ao conceito que  os inspira, deixando de ser uma compensação financeira para as  localidades que devem arcar com a infraestrutura em terra na qual se  apoia toda a atividade da indústria petrolífera. Quem tiver dúvida sobre  o impacto em terra (para o bem e para o mal) da atividade petrolífera  no mar deveria visitar a cidade de Macaé, no Norte Fluminense, ou alguns  dos municípios vizinhos.

O que suscitou essa discussão em torno  da distribuição das receitas de royalties foi a perspectiva de um salto  na produção de petróleo em decorrência de prováveis novas descobertas na  chamada camada do pré-sal. Como houve mudança no modelo de exploração,  com o regime de partilha substituindo o de concessão nas futuras áreas  do pré-sal, o governo federal pretendeu inicialmente concentrar na União  todas as receitas de royalties desses novos blocos, desencadeando uma  polêmica capaz de causar um retrocesso institucional, quase uma  dissensão federativa. Os atuais estados e municípios produtores quase  foram massacrados por um movimento dentro do Congresso que atropelou os  princípios mais básicos da lei. O então presidente Lula teve que usar  seu poder de veto para reabrir negociações com o Congresso.

Na  tentativa de assegurar o equilíbrio federativo, governadores dos estados  do Rio, do Espírito Santo e de São Paulo haviam negociado com o  presidente Lula um acordo, pelo qual a fatia das unidades federativas  não produtoras aumentaria significativamente nas áreas que forem  licitadas pelo regime de partilha, mas sem que os produtores fossem  alijados da distribuição dos recursos.

Essa fórmula não mexeria  com a receita já contratada, e, portanto, inserida, como é óbvio, no  planejamento orçamentário de estados e municípios em curto e médio  prazos. Para municípios do Norte Fluminense, uma mudança radical na  fórmula de repartição das receitas dos royalties os desorganizaria  financeiramente. Em contrapartida, para a imensa maioria dos municípios  não produtores, a receita adicional não terá qualquer relevância.

O  deputado Carlos Zarattini (PT-SP), relator indicado na Câmara para dar o  parecer sobre o projeto aprovado no Senado, é favorável a que se busque  um acordo nos moldes do negociado pelo então presidente Lula. É de fato  o caminho para o entendimento.

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