Brasil tem a maior taxa de reprovação no ensino médio dos últimos 12 anos

Gazeta do Povo

O índice de alunos repetentes na última etapa da educação básica no Brasil aumentou mais uma vez. Em 2011, a taxa de reprovação no ensino médio chegou a 13,1%, a maior média nacional desde 1999, primeiro ano com dados disponíveis no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) do Ministério da Educação. Nesse cenário, as escolas da rede pública continuam com os piores resultados. Em 2011, o índice de reprovação nas públicas foi de 14,1%, enquanto as instituições particulares tiveram taxa de 6,1%. Os dados foram publicados na terça-feira pelo Inep.

No Paraná, a taxa de reprovação está abaixo da média nacional, mas também subiu. Em 2011, o índice foi de 12,6%, diante das taxas de 11,7%, 11,1% e 11,5% registradas nos anos de 2010, 2009 e 2008, respectivamente. As escolas públicas paranaenses também reprovam mais no ensino médio. Em 2011, 13,8% dos alunos não passaram de ano na rede pública, contra apenas 4,1% nas instituições particulares. O crescimento da taxa de reprovação também aumentou nas escolas públicas no Paraná nos últimos anos. Em 2009, a taxa foi de 12% e em 2010, de 12,6%.

Mudanças de governo são explicação possível, afirma Mercadante.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse ontem, no Rio de Janeiro, que é necessário “um estudo mais aprofundado para analisar” o aumento da taxa de reprovação no ensino médio em 2011 em relação aos anos anteriores.

“Oscilações de um ano para outro sempre acontecem. Para avaliar o ensino, a taxa de reprovação é um dos indicadores de fluxo. O outro é a qualidade do aprendizado. Como o ensino médio é predominantemente estadual e nós tivemos mudanças de governo em muitos estados no ano passado, novos secretários de educação, novas atitudes, novos procedimentos, talvez tenha aí alguma explicação. Mas eu não quero me adiantar antes de um estudo mais aprofundado”, disse Mercadante, após participar do 24º Fórum Nacional na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Alfabetização

O ministro aproveitou para adiantar alguns pontos do programa “Alfabetização na Idade Certa”, que deve ser lançado em junho pelo governo. Será criado um exame nacional para estudantes de 7 e 8 anos, de todas as escolas públicas do país, para avaliar o seu desempenho em leitura, redação e matemática. A avaliação será nos moldes da Provinha Brasil, atualmente aplicada para crianças no segundo ano de escolarização da rede pública. “O primeiro ciclo de formação continuada é entre 6 e 8 anos para o letramento. As crianças que não estiverem prontas aos 7 anos, ainda podem ser trabalhadas para que se viabilizem nesse processo com 8 anos.

O estado com a menor taxa de reprovação no país foi o Amazonas, com média de 6%. O pior lugar ficou com o Rio Grande do Sul, onde foi registrado o maior índice de repetência, 20,7%, seguido do Distrito Federal e do Rio de Janeiro, os dois com 18,5%.

O levantamento do Inep mostra também que a quantidade de estudantes que se matricula nas escolas e deixa de frequentar as aulas durante o ano melhorou, mas ainda é alta. Em 2001, a taxa de abandono foi de 9,6%, média melhor se comparada à de 2010, quando o índice nacional foi de 10,3%.

Análise

O aumento da taxa de reprovação no país é “lamentável”, mas esperado, avalia Maria Márcia Malavasi, pesquisadora do Laboratório de Avaliação Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ela, caso não sejam alteradas as políticas educacionais no país, os resultados serão piores nos próximos anos.

“Não se tem nenhum investimento concreto no ensino médio no Brasil, tanto nas instituições públicas quanto nas privadas”, alerta Malavasi. “As escolas, com poucas exceções, prepararam o aluno apenas para passar no vestibular e não para aprender. O ensino médio não se configura mais como uma das etapas da educação básica e se transformou em uma preparação para o ensino superior. Isso é muito ruim e não ocorre em nenhum país desenvolvido”, afirma..

O professor Ocimar Ala­varse, da Faculdade de Edu­­cação da Universidade Es­­tadual de São Paulo (USP) lembra também que a repetência demonstra a falta de preparo dos professores para lidar com alunos com maior dificuldade de aprendizagem. Na maioria dos casos, avalia Alavarse, a reprovação poderia ser evitada pelo professor. Além disso, o fracasso escolar provoca, com frequência, a evasão escolar.

“No Brasil, os problemas de desempenho do aluno, que são normais, só são detectados no fim do ano letivo”, diz. “Não há acompanhamento nem propostas de medidas pedagógicas eficazes, postura que acaba criando situações penosas para o aluno que poderiam ser evitadas”, diz. Para mudar esse quadro, de acordo com ele, seria necessário uma verdadeira “revolução” do ensino no Brasil. “Ou a organização das escolas muda ou esses índices continuarão a crescer”, conclui.

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