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Brasil desperdiça a maior mão de obra de sua história

O Brasil desperdiça cruelmente o potencial dos jovens. De cada 100 deles, apenas 46 estudam — e boa parte está atrasada na escola. O país está abrindo mão de sua maior riqueza: a força jovem de trabalho. Além da violência que ceifa a vida de milhares deles, o nível educacional é assustador, apesar da existência de uma força de trabalho extraordinária e única na história brasileira, entre 15 e 29 anos.

“A menos que se faça algo muito rápido, com efeito de grande alcance no plano da educação e da qualificação profissional, o país terá perda significativa em relação ao que poderia desenvolver e proporcionar à população nas próximas décadas”, sentencia Regina Madalozzo, professora do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

O tempo está contra o Brasil. O pico de jovens entre 15 e 29 anos em termos de quantidade foi atingido em 2008, quando somaram 51,3 milhões. Em 2011, esse total já estava um pouco menor, eram 49,4 milhões. O número continuará caindo, por conta da redução dos números de filhos que as famílias estão tendo e dos milhares de jovens que ficam pelo caminho, vítimas de violência e acidentes de trânsito, que atingem, principalmente, os homens e os mais pobres. Muitos desses meninos e meninas haviam sido salvos, tempos atrás, quando o Estado resolveu enfrentar a elevada mortalidade infantil.

“Aos 15 anos, começa uma mortalidade de jovens em nível epidêmico”, afirma o cientista político Antônio Flávio Testa. Cerca de 37 mil jovens entre 12 e 18 anos serão mortos por arma de fogo até 2016, conforme o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Ao mesmo tempo, está crescendo a quantidade de idosos, que demandarão mais gastos com a Previdência e assistência à saúde e precisarão ser sustentados na inatividade por essa população jovem que está em ritmo de redução.

As estatísticas só reforçam a situação dramática do futuro que o Brasil tem pela frente, quando sua população idosa, a partir dos 60 anos, estará seis vezes maior que atualmente, daqui a 40 anos. 8,1 milhões de jovens entre 18 e 24 anos abandonam a escola sem terem completado o ensino fundamental ou o nível médio. Eles representam 36% do total de brasileiros nessa faixa, segundo o Censo 2010 do IBGE. Os dados da Pesquisa por Amostragem de Domicílio (Pnad) 2011 apontam que pelo menos 6,5 milhões nessa faixa etária frequentam a sala de aula. Representam, porém, apenas uma fração, 20%, da legião dos que têm de 18 a 24 anos. Além de ser um grupo diminuto, um terço deles está atrasado nos estudos: 2 milhões ainda estão no ensino fundamental ou médio.

A proporção dos jovens entre 15 e 17 anos que estudam é bem maior: 83,7%. Mas a situação também não anda boa para essa parcela dos jovens. O total diminuiu entre 2009 e 2011. Foi o único indicador de escolaridade que piorou no Brasil. Há dois anos, 86% desse pessoal estavam na escola. Entre eles, a proporção que está atrasada, ou seja, não cursa a série adequada para a idade, também é alta: 37% não terminaram o curso fundamental. “Era para todos estarem no ensino médio”, afirma a pesquisadora do IBGE Betina Fresneda.

Baixa qualidade
Não bastassem os dados negativos dos que abandonam a escola antes do tempo e daqueles que estudam, mas estão atrasados, mesmo os jovens que completam o ensino fundamental ou o médio padecem de má formação escolar e qualificação em sua maioria. “Isso resulta em baixa produtividade no trabalho, menor proficiência (competência) e menores salários”, resume o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi.

Antônio Testa lembra que aumentou o número de alunos em todos os níveis de escolaridade, do básico ao superior, e a taxa de abandono precoce também diminuiu. Contudo, a qualidade do ensino está ruim na grande maioria das instituições de ensino. “Parte dessa juventude está perdida e fará falta no futuro, quando adultos, para garantir o crescimento sustentado do país”, afirma.

Para Samuel de Abreu Pessoa, chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Brasil escolheu fazer as mudanças lentamente, nada parecido com o espírito coreano. O país asiático investiu pesado, prioritariamente, no ensino fundamental, dando condições materiais e humanas para todas as crianças e adolescentes. “Em vez de o Brasil levar 30 anos, vai demorar 100 anos.” Até lá, os idosos terão que trabalhar mais e se aposentar mais tarde”, avalia.

As informações são do Correio Braziliense

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