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Bolsonaro mostra à Veja: Forças Armadas estão dentro do TSE e no cio

A entrevista de Jair Bolsonaro à revista Veja neste final de semana mostra que o presidente da República conseguiu, ao menos em parte, o que ele queria: perdeu ao pressionar as instituições pelo voto impresso mas conseguiu que as Forças Armadas dessem “assessoramento” em todas as etapas de contagem dos votos das urnas eletrônicas.

“Olha só: vai ter eleição, não vou melar, fique tranquilo, vai ter eleição. O que o Barroso está fazendo? Ele tem uma portaria deles, lá, do TSE, onde tem vários setores da sociedade, onde tem as Forças Armadas, que estão participando do processo a partir de agora. As Forças Armadas têm condições de dar um bom assessoramento. Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico. As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o Barroso, no tocante a essa ideia — desde que as instituições participem de todas as fases do processo”.

Em 22 de julho, os jornais mostravam as ameaças do ministro da Defesa, Braga Netto, pelo voto impresso. Ameaças feitas ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP): não haveria eleições- avisou o ministro- se não houvesse voto impresso e auditável. Aliados de Lira vazaram as informações do encontro. Braga Neto e Lira desmentiram a conversa.

Em 14 de agosto, tanques de guerra desfilaram pela praça dos Três Poderes, em Brasília, sob a justificativa de um desfile militar. Era uma estratégia safada porque neste mesmo dia a Câmara dos Deputados apreciava a PEC do Voto Impresso- e o Governo foi derrotado.

Em 7 de setembro- ápice dos atos golpistas- havia ameaças do uso da força estatal contra as instituições. Logo depois das pressões, Bolsonaro suavizou. E assim está até hoje.

Mas ele conseguiu que as Forças Armadas pudessem participar “de todas as fases do processo”, referindo-se às urnas eletrônicas. Várias vezes, Bolsonaro usou pronomes possessivos, ao se referir a instrumentos estatais. Em Porto Velho, no dia 7 de maio, falou assim: “Meu Exército, minha Marinha, minha Aeronáutica”, como se estivesse chamando seus milicianos para uma convocação. “Chefe supremo das Forças Armadas”, referindo-se a ele próprio, também foi uma frase usada pelo presidente da República.

Agora, o TSE, via ministro José Roberto Barroso inclui o “meu Exército, minha Marinha, Minha Aeronáutica” nas etapas de processamento dos votos no país. Um presidente da República assumidamente golpista, a favor do extremismo a qualquer custo e protegido pelas instituições – do contrário teria sofrido impeachment- parece ter sido aconselhado a ameaçar, de forma mais branda porém não menos temível, a maior instância jurídica da Justiça Eleitoral brasileira.

Isso não é um aceno de paz, mas um aviso de que a matilha bolsonarista mais as Forças Armadas continuam no cio. O lobo apenas vestiu a pele de cordeiro, mas todos sabem que o lobo é o lobo. E seus dentes estão à mostra.

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