Nessa época de novelas repetidas e finais conhecidos na programação das TVs, a derrocada de um vilão interessa o mundo. O Brasil- maior país da América Latina, outrora 8a maior economia do globo- inaugura um sistema presidencial sem a participação do presidente. Governadores, ministros, presidente da Câmara retiraram quase todos os poderes de Jair Bolsonaro.
No pronunciamento desta terça-feira, Bolsonaro distorceu palavras de Tedros Adhanom, diretor geral da OMS. Antes havia feito pior: transformar uma pandemia em uma gripezinha, mentindo para que um país se convencesse, pela boca do seu presidente, que todos poderiam sair às ruas, numa falsa normalidade.
Não convenceu. Desmoralizado- nem os bolsonaristas se arriscam em abrir seus negócios- resta o apoio dos filhos. Não é muito. A solidão do poder faz o presidente buscar os militares , talvez sonhando com um golpe de Estado e um OK de Donald Trump.
Trump percebeu que mentir na pandemia afundaria seu mandato. Apoia, agora, as entidades médicas. A contragosto, mas apoia. Bolsonaro, por outro lado, está destruído. E foi destruído por ele mesmo. Seu jogo de trapaças revelou não apenas ele, mas uma direita perigosa. Uma direita que mistura fascismo e a psicologia escravagista. O gosto pelo chicote no lombo de uma massa obediente. Um ódio de classe.
Um vilão arrasta seus andrajos para um fim. Qual será? Renúncia? Impeachment? Afastamento? Um grande acordo para preservar a si e a seus filhos? Uma anista?
Tudo, menos a permanência do mito onde ele está. Sua estrela caiu. O som das panelas virou o toque das almas. Acabou.