Repórter Nordeste

Blog do Odilon: Pacifismo e solidão, na ilha de Alagoas

Ninguém, em sã consciência, acredita que o governador de Alagoas pegue em armas ou contrate pistoleiros, e execute pessoas de forma vil ou covarde.

Mas, todos em Alagoas sabem que ele será o único a elevar a paz ao status que hoje é ocupado pelo crime, pelas escolas fechadas, pelas praças que viraram pontos do tráfico.

Pelas mães e pelos pais que perdem seus filhos, sejam eles viciados ou não em crack. O médico ou o filho do deputado; as crianças varadas pelas balas e estendidas no chão…

… Giovanna Tenório, que não morreu só por ter se relacionado com um homem casado; Erick Ferraz, morto não apenas por tomar satisfações a alguém que deu cantada em sua namorada; ou Alexystaine, não assassinado ou torturado porque Deus quis assim.

Ensinam os estadistas mais antigos que a paz é uma condição para o progresso nas nações. E a vontade coletiva, diria Einstein, se inspira nesta convicção. Este é o sentimento buscado pelos alagoanos. E esta vontade de paz faz falta nos discursos do governador.

Todos têm as suas responsabilidades. Também conheço as minhas. E o governador sabe as quem têm. 15 homicídios em um final de semana, mesmo entre a rapaziada do crack, é um dado alarmante, considerando que não estamos adotando nenhuma política de eugenia.

A eliminação dos judeus era uma condição, executada pelas tropas da SS, para que a Alemanha jogasse a “sujeira” de uma “raça inferior” para debaixo do tapete. Neste caso, as covas rasas ou os fornos crematórios. Hitler havia convencido a todos que a política de busca da raça pura era necessária no resgate econômico e ligação da identidade da Alemanha pós-1a Guerra com os mitos do passado, os deuses de Richard Wagner, perfeitos diante da imperfeição humana, de língua alemã e status de Justiça ou Vitória pessoais, antes os demais humanos comuns e mortais.

O resultado é que pelo menos uma família judia, no mundo, teve um parente seu morto, de forma trágica, entre aqueles 6 milhões contabilizados pela história- um passado difícil de apagar. Ou de se desculpar por ele, mesmo 60 anos depois.

Que Teotonio Vilela Filho proteste contra o aniquilamento diário de alagoanos- sejam eles viciados ou não. O pacifismo não pode ser combinado com omissão ou varrer nossa sujeira para debaixo do tapete. Devemos esperar um objetivo e um valor de ação naquilo que for anunciado pelo Governo a partir de hoje.

O passado de atitudes belicosas mostra como a história andou lá atrás. O esforço da guerra, os planos de segurança imaginativos ou as palavras de recrudescência (algumas até negando a realidade, como as que falam dos números da segurança) já não nos conduzem mais a uma solução suportável.

Sim, sou responsável pela segurança em Alagoas, também. Mas, espero que essa responsabilidade não me esmague. Um de meus filhos já foi arrastado para esta máquina de moer gente.

Ainda tenho forte amor pela Justiça (a de jota maiúsculo). Mas, sei que, nesta batalha, cada alagoano vítima da violência é uma ilha, cercada de solidão por todos os lados.

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