Bela Gil mostra porque uma alimentação saudável combina (cada vez menos) com a era Bolsonaro

A aprovação de agrotóxicos virou rotina no governo Bolsonaro, que demonstra uma escassez de preocupação com a saúde ambiental e com os riscos que a utilização desses produtos podem causar aos consumidores. A prova disso é a relação entre o uso de agrotóxicos com a mortandade de abelhas, o que vem preocupando apicultores e também os agricultores, já que as abelhas fazem um importante trabalho de polinização de alimentos.

Mês passado, no Youtube, a apresentadora Bela Gil, nutricionista e chef de cozinha natural, concedeu uma entrevista para o canal Brasil de Fato, enfatizando que “a gente escolhe os governantes errados […] elege pessoas que realmente não têm os mesmos interesses, fica muito mais complicado…”. Ativista, a apresentadora tem dedicado seu tempo ao destaque da importância da alimentação saudável. Ela sabe a importância do papel do Estado na luta pela saúde e segurança alimentar e também entende que para que todos tenhamos acesso a isso é necessário políticas públicas.

Bela destacou que “alimentação e agricultura não é algo que está no radar desse governo”. De fato, até agora não houve mudança no silêncio do presidente sobre essas questões. Na verdade, umas das primeiras medidas do governo foi a extinção do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), que se tratava de um espaço de discussão sobre polítcas de segurança alimentar e nutricional e mirava o combate à fome e à miséria, buscando reafirmar o compromisso previsto na constituição: o direito a alimentação. Era fruto das lutas pela democracia e firmava um diálogo entre governo e sociedade.

Para a apresentadora, essa postura do governo “é muito triste, pois quem sai perdendo é a população. Quando você libera esse tanto de agrotóxico quem ta ganhando não é a população, não é o produzir mais, são as empresas que estão produzindo esses venenos”. O que Bela quer reivindicar é a necessidade pensar um Brasil onde comer não signifique risco, valorizando o interesse público por alimentação segura e saudável.

A luta pela alimentação saudável no Brasil passa obrigatoriamente por questões políticas como a reforma agrária. Bela entende muito bem que sem a reforma a dificuldade é bem maior, já que nossas terras precisam ser divididas de forma democrática. O país precisa se dar conta de propostas como a agroecologia, redefinindo a dinâmica de produção de alimentos visando a diversidade.

A nutricionista afirma que sem reforma agrária e sem agroecologia, os caminhos para a alimentação saudável é muito mais árduo. Enfatiza que a educação alimentar, culinária e nutricional tem um potencial de transformação imenso e que é de se pensar em ações deste tipo nas escolas para frear o estímulo a alimentação massificada e padronizada, que tem componentes industriais  nocivos.

Além do estudo sobre comida e de como comer, a educação alimentar pode trazer uma nova forma de se relacionar com o as pessoas, possibilitando o contato com o alimento, o toque. O ato de cozinhar envolve esferas psicológicas e sociais que estão se perdendo pelo apelo mercadológico padronizado, rápido e sintético. Para Gil, o plantar e o cozinhar está no centro das transformações que queremos em prol da nossa saúde.

Pessoas, ideias e ações podem transformar o mundo quando nos abrimos a perspectivas mais profundas sobre nossa realidade. Comer não é um ato simples e corriqueiro. Para pessoas como Gil,  comer é um ato político. De fato, devemos aprender que alimentação e política se discute, sim, desde que saibamos o nosso papel no caminho para um mundo melhor.

.