Barulho de traque, no Judiciário de Alagoas

Para deputados, só Deus pode contestar de decreto que blinda deputados

Odilon Rios
reporternordeste.com.br

O deputado e frasista Temóteo Correia (DEM) está certo ao defender a Assembleia Legislativa- ao culpar Deus- e não os homens- pela corrupção. 10% da população alagoana mora em favelas, 94% dependem da Defensoria Pública e todos vivem na sombra do Judiciário mais lento do Brasil- a imagem da Justiça alagoana, mostrada pelo CNJ.

Quem mora nas favelas não têm a posse nem o título da terra – oferecidos pela Justiça e o Executivo. Os sem-terra apinhados na praça Sinimbu- em frente ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sabem disso. Culpam Deus pela miséria e a não-punição de seus assassinos.

Os rebotalhos humanos que vagam diante do Tribunal de Justiça, na praça Deodoro, também culpam Deus.

Deus é engenhoso. Sete dias após uma decisão da Assembleia Legislativa, determinando o afastamento de deputados- por corrupção- a Associação dos Magistrados (Almagis) se pronuncia sobre o episódio. Sete dias. O juiz Helestron Costa- que não é Deus- não merece uma humilhação tão longa. Afinal, a Assembleia, em 24 horas, decidiu que não seguiria a decisão do juiz.

Além de engenhoso, Deus é timido e discreto. Gosta de falar pouco. Escolheu uma véspera de Natal para que a Almagis escrevesse uma nota curta: 11 linhas, 117 palavras, 767 caracteres.

Poderia ser mais lacônica: Não gostamos disso!. Três palavras, 19 caracteres- com a exclamação.

O juiz Helestron Costa analisou 13 volumes de inquérito policial, 94.325 páginas, 233 laudos produzidos da Operação Taturana para decidir pelo afastamento de parlamentares.

Trabalho de solitários, quisera outros terem a mesma coragem e firmeza do magistrado.

Concluiu que os homens- e não Deus- são os responsáveis pelo desvio de R$ 300 milhões da Assembleia.

Mesmo assim, seu arrazoado foi negado, em 24 horas- repita-se- pela Assembleia Legislativa. E contestado 168 horas depois, pela Almagis.

Somente Deus, o culpado pela corrupção- segundo o nosso nietzschiniano Temóteo Correia- pode contestar a decisão dos deputados.

E o Judiciário de Alagoas- conforme textículo da Almagis- sequer faz barulho de traque.

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