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Ausência de políticas públicas e corpo na geladeira

Quando nós acreditamos que a barbárie na antecedência deste 08 de março de 2024, em Maceió, já tinha se concretizado lamentavelmente no feminicídio de Valkíria, assassinada pelo ex-companheiro no ambiente de trabalho e no dia do aniversário, somos uma sociedade surpreendida pelo feminicídio de Flávia dos Santos Carneiro, com o envolvimento da própria filha adolescente, por não admitir um relacionamento amoroso entre esta e aquele que executou o crime.

A morte de mulheres vinculadas a questões de relacionamento é sempre uma questão desafiadora. Parece um monstro invencível, mas nós não podemos desistir de lutar contra ele, pois segue rondando nossos passos, seja como filha, mulher, mãe, sogra, e outras denominações.

O executor de Flávia seria seu genro, haja vista manter relações maritais com a filha, uma adolescente de 13 anos, que após a morte da mãe – que teve seu corpo desovado em uma mata dentro de uma carcaça de geladeira, foi para casa com o companheiro.

Pelo fato de ter sido descoberto e preso, o jovem de 23 anos responderá por feminicídio e estupro, mesmo na relação consentida, por causa da idade da jovem.

A história trágica resume o fim da vida de Flávia aos 43 anos, a reclusão da filha que segue sob a custódia do Estado e a prisão do assassino confesso, que irá a julgamento e poderá responder pelo crime com muitos anos de detenção.

Para onde foi o amor? Foi esmagado pela violência de gênero e substituído por uma situação de espanto, horror e sentimento de falência do modelo de sociedade que vigora entre nós.

Isso não é apenas uma notícia, é um lamento escrito com a finalidade de estimular a qualificação dessa sociedade, que está largada nas mãos dos líderes politiqueiros afeitos ao mercado, recusando investimento em humanidade, através de educação, cultura e boas condições de existência.

Na escala da desigualdade de acessos e estímulo aos instintos brutos como característica de uma classe social abandonada, o primeiro crime é a desumanização do outro em escala coletiva, e este é o crime perfeito, que passa despercebido entre nós.

O Estado ergue o troféu quando prende um criminoso, mas omite ações que poderiam impedir certos tipos de crime.

Neste caso, no lamentável feminicídio de Flávia, apenas alguns responsáveis serão penalizados.

 

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