Em um áudio vazado em grupos de educadores do estado, uma mulher, que supostamente trabalha em uma das Gerências Especiais de Educação, faz a sugestão de alocar diretores na cozinha, designar alunos como auxiliares para limpar o chão das escolas e forçar a equipe diretiva a trabalhar na secretaria escolar e na portaria durante o período de greve.
Além disso, há ameaças de cortes de salários e tentativas de desqualificação do sindicato. De acordo com um denunciante, que prefere não se identificar por medo de represálias, “tais táticas e práticas foram lamentavelmente comuns”.
Escute o áudio:
A greve teve início no dia 24 de agosto, no entanto, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal) decidiu pela suspensão da paralisação, que acabou na última segunda-feira (11).
Em carta enviada ao Repórter Nordeste, o professor diz se sentir profundamente perturbado e coagido.
Veja o texto:
As seguintes palavras foram proferidas por uma das gerentes da rede estadual de educação de Alagoas. O propósito é claramente intimidar e pressionar os diretores para que as escolas continuem abertas durante a greve dos profissionais da educação. Esses áudios circularam amplamente em diversas escolas e, muito provavelmente, foram ouvidos por muitos profissionais antes de se tornarem públicos.
A sugestão da senhora que fala é alocar diretores na cozinha, designar alunos como auxiliares para limpar o chão das escolas e forçar a equipe diretiva a trabalhar na secretaria escolar e na portaria das escolas. Além disso, há ameaças de cortes de salários e tentativas de desqualificação do sindicato como entidade capaz de proteger os direitos dos profissionais. Durante o período de greve realizado pelos profissionais deste estado, tais táticas e práticas foram lamentavelmente comuns.
Como educador, sinto-me profundamente perturbado e coagido. É chocante ouvir tais palavras de pessoas que deveriam estar empenhadas em assegurar a qualidade da educação pública em Alagoas. A qualidade da educação também depende da integridade moral e psicológica dos profissionais, que estão sofrendo devido a comportamentos como esses. Não é suficiente lutar diariamente em salas de aula lotadas, com recursos limitados e alunos desmotivados. Não é suficiente enfrentar salários defasados e ser forçado a recorrer à greve em busca de dignidade salarial. Agora, também devemos suportar abusos, ironias e ameaças por parte daqueles que deveriam garantir nossas condições de trabalho e preservar nossa saúde mental.
Durante a greve, testemunhamos um festival de ameaças nas escolas. O governo usou programas de incentivo como Mentoria e Vem que dá tempo como forma de minar a greve e pressionar os grevistas, entre outras práticas absurdas.
Lamentamos profundamente que, em vez de buscar o diálogo, a coação tenha sido a resposta da Seduc. Lamentamos que o sindicato tenha feito tão pouco para apoiar esses profissionais que estavam constantemente sob pressão. Afinal, uma simples nota de repúdio não garante direitos nem a sanidade de ninguém. Lamentamos saber que essa não é uma atitude isolada, mas sim uma cultura prejudicial que existe há anos neste estado, independentemente da gestão política em exercício. Lamentamos ver tantos colegas adoecendo física e mentalmente como resultado dessas ações. E sim, senhor gerente, quanto mais pressão e coação, mais adoecimento e afastamentos. Isso é algo que testemunhamos diariamente, nós, que estamos no front das escolas.
Felizmente, nem todos os gestores compactuam com essas práticas. Espero que surjam mais denúncias a partir deste momento. Estamos cansados de suportar tudo isso em silêncio por medo de retaliações.
Questionada pelo Repórter Nordeste, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) respondeu por meio de uma nota afirmando rechaçar atos de coação. Reiterou ainda que respeita a liberdade de manifestação.
Confira o posicionamento da Seduc:
NOTA
A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) rechaça qualquer possível ato de coação envolvendo servidor da rede estadual de ensino, reafirmando, em tempo, o seu respeito à liberdade de manifestação.
A Seduc reforça, ainda, a necessidade de se formalizar toda e qualquer denúncia acerca de suposto desvio de conduta praticado por servidor desta secretaria – o que, no presente caso, não ocorreu -, permitindo, assim, a devida apuração pelo setor competente.