Ícone do site Repórter Nordeste

As vísceras de Alagoas expostas com Aparecida

Nascer alagoana me trouxe a arte de equilibrar a fineza e a torpeza, adequando a íris em um mesmo silencioso e gritante olhar!

Eu vejo. Posso descrever a visão das águas verdes e o fétido calabouço das mentalidades. Para isso utilizo palavras.

Tenho estudado com afinco cada grão dessa terra na qual piso com respeito, pois nela descansam os ossos ancestrais dos que me concederam genética e razões para respirar entre cajueiros e canaviais.

Ouço os tilintar dos brincos das madames, quase desenho seus sorrisos malévolos, enfeitando lindos rostos, maquiagem da felicidade em perversão.

Há alguns dias Alagoas celebra o fim dos perigos sociais. Enfim, prenderam a jornalista Maria Aparecida!

Outros jornalistas demonstram vitória, reúnem cumplicidades, justificam ao senso comum, outros sepultam a criticidade na defesa das relações, o que em tese, garante comida na mesa e cerveja no final de semana, recebendo brisa fresca na democrática beira-mar.

Teorias sociais, quem as usa?

Apenas nos palanques elas exercem algumas funções esperadas.

Agora até os despachos processuais estão prenhes de achismos e opiniões, esse é o tempo das desvinculação de papéis e representações ao sabor dos gostos do poder.

Cortem a cabeça dos que incomodam, ofereçam na bandeja e livrem o mundo do mau! Salomé dança maravilhosamente e carrega a crueldade amarga dos que desejam segurar a bandeja, nela depositaram todos os direitos que o incômodo possuía. Será eterna a força dessa metáfora?

Entidades que defendem os estatutos das pessoas idosas recusam Maria Aparecida de 73 anos. Entidades que defendem os direitos das mulheres recusam Maria Aparecida em sua desbocada misoginia. Entidades que defendem direitos humanos, recusam Maria Aparecida em sua forma de incomodar os acomodados sobre tantos outros direitos.

Não existem vozes em Alagoas para institucionalizar a defesa dessa incômoda mulher?

Deve ser guardada nas caixas institucionais especialistas em torturar sem deixar marca visível?

Devemos todos comer e beber a derrota de Maria Aparecida, porque agora Alagoas está livre de todo mal?

Uma taça vazia de humanidade não atrai meus lábios, nem experimento um único naco do pão azedo que nutre as desventuras dessa terra na qual piso com pesar, com amor sofrido e resistência do livre pensar.

Minha solidariedade outra vez se estende àquela que por mais disparates que diga nunca conseguirá furar minha alma como os que se utilizam do poder para enterrar a cidadania…dos desamparados.

Sair da versão mobile