As traduções (criativas) para o português dos filmes mais famosos

“Shane” ficou “Os Brutos Também Amam”. “Giant” deixou de ser “gigante” e virou “Assim Caminha a Humanidade”. Dois nomes próprios, “Jack and Jill”, resultaram em “Cada um tem a Gêmea que Merece”. E “Airplane” não podia ser apenas “Avião” – melhor trocar para “Apertem os Cintos…O Piloto Sumiu”.

Nem sempre é fácil entender o que está por trás da criatividade de quem traduz títulos de filmes do inglês para o português. Com 13 anos de experiência como tradutor, o professor gaúcho Iuri Abreu decidiu tentar: analisou quase 300 produções, comparou os nomes originais com as versões brasileiras e chegou à conclusão de que as escolhas são mais fruto de marketing do que de tradução. “A decisão é sempre baseada no público alvo”, afirmou, em entrevista ao iG.

A pesquisa de Abreu – reunida no livro “Perdidos na Tradução”, da editora Belas Letras – sugere que grande parte dos títulos em português, dos engraçados aos estranhos, se preocupa em explicar ao máximo qual o tema ou o gênero do filme. “Muitos nomes em inglês são enigmáticos, não dão a menor ideia da história. No Brasil há uma tentativa de explicitar, dar uma dica, não deixar dúvida”, disse o autor.

Para isso, estabeleceram-se recursos básicos, a começar pelos subtítulos. Verdadeira febre nacional, são usados principalmente quando o título original é mantido, seja ele uma palavra em inglês (como em “Ghost – Do Outro Lado da Vida” e “Halloween – A Noite do Terror”) ou o nome de um personagem (“Ace Ventura – Um Detetive Diferente” e “Forrest Gump – O Contador de Histórias”).

Um dos exemplos favoritos de Abreu é “Christine – O Carro Assassino”. “Em inglês poderia ser uma mulher, porque é apenas um nome próprio. Mas no Brasil quiseram deixar claro que é sobre um carro, e um carro que mata”, afirmou.

Há também o recurso “palavra-chave”, muito usado como indicador de gênero. Comédias costumam ter no título “loucura”, “confusão” ou “muito louco”, enquanto filmes de terror são facilmente identificados por termos como “maldito”, “assombrada” e “mortal”. “Parece que existe uma caixinha com palavras e o pessoal só coloca a mão e tira uma”, brincou Abreu.

Brasil e Portugal

Para saber se a criatividade na tradução era exclusividade do Brasil, o autor comparou todos os títulos nacionais com suas versões portuguesas.

A leitura sugere que, em geral, as tendências são as mesmas, embora Portugal costume manter mais nomes originais (e até sem subtítulo) do que o Brasil.

A lenda de que “Psicose” (ou “Psycho”) virou “O Filho que era Mãe” em Portugal é falsa – lá, o filme é apenas “Psico”. Mas outro clássico de Alfred Hitchcock ganhou tradução no melhor estilo “spoiler”, entregando parte da trama. “Vertigo”, que literalmente significa “vertigem”, foi traduzido como “A Mulher que Viveu Duas Vezes”, ainda pior que a opção brasileira, “Um Corpo que Cai”.

Apesar de elencar as escolhas duvidosas, o livro de Abreu também reconhece o difícil trabalho dos tradutores de língua portuguesa, e vê acertos mesmo quando não há fidelidade ao original. Para ele, é preciso buscar alternativas nos casos em que o nome em inglês carrega referências culturais muito específicas ou possui palavras de pronúncia muito difícil.

 

 

Um exemplo é o suspense “Crime na Casa Branca” (Brasil) ou “Homicídio na Casa Branca” (Portugal). O original, “Murder at 1600”, faz referência ao endereço da residência oficial do presidente norte-americano em Washington: 1600 Pennsylvania Avenue. “O americano comum reconhece o termo muito facilmente, porque é algo usado nos jornais. Mas em português é preciso traduzir e buscar outra coisa”, explicou.

Entre seus títulos preferidos estão “O Poderoso Chefão”, que “tem mais a ver com filme de máfia” do que “O Padrinho”, caso tivessem optado pela tradução literal de “The Godfather”; e “Bonequinha de Luxo”, versão de “Breakfast at Tyffany’s”, uma referência ao hábito da protagonista de tomar café em frente ao prédio da luxuosa joalheria na Quinta Avenida, em Nova York. “Na época em que o filme foi lançado (1961), talvez as pessoas não entendessem”, disse.

Mas ele considera difícil traçar padrões de boas traduções. “Melhor do que criar regras”, afirmou, “é usar o bom senso.”

As informações são do IG

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