A mulher que me inspira não é a que aparece maquiada e linda nas telas sob as lentes, mas a Dona Benedita, mais conhecida por Biu, que fazia as melhores cocadas do mundo, e eu as comia de lambuzo! Ela me contava casos e causos, das lides de quem vivia nas fazendas na região praieira do norte de Alagoas, pelas quais transitou jovem-negra, caindo aqui e ali na conversa de alguns, mas criando os filhos em torno da saia rodada, sem parar de dançar, de cantar, de amar.
A mulher que admiro não carrega sobrenomes “nobres”, mas assina Silva ou Santos, conhece as manhas do plantio, roça macaxeira, planta coentro, faz bolo de massa puba e fubá, e esteve pelas calçadas da minha adolescência lavando pratos e roupas nas barreiras do Camaragibe, no tempo em que ainda podia pegar “camarão-pitú” nas locas. Essas mulheres me dão a força que escrevo em trançado sublime de carinho e lágrimas.
Vi os sulcos feitos pelo tempo na marcha dos desenganos em todas as faces, ora maternais, ora inexpressivas. Mulheres da minha raiz, foi de todas vós que eu vim.
Não estão assentadas nos tronos nem puderam decidir as vidas alheias com um golpe de olhar, mas por certo forjaram nas almas de seus homens a certeza de que é preciso lutar.
Não tenho flores em botão para homenageá-las, mas a lembrança de seus gestos, fazendo o chá, fazendo a reza, construindo a cura, o acalanto. Como foi bom estar entre os seus braços que diminuíam dores!
Aprendi a rezar com seus rosários de contas. Respeitar o bendito, cantar a Padre Cícero Romão Batista e a Virgem Mãe das Dores, aquela que cuida de todos nós, sofredores, sofredoras.
Mulheres de pele curtida no sol, de nome Eudócia, Maria, Adélia, Isabel…todas Donas, donas dos nossos corações implumes. Sem malícia. Assim como uma senhora linda que se chamava Rosilda, há muito na espiritualidade, mas que me ensinou tanto em pouco tempo, como somente as mulheres de bem o sabem.
Enfim, para encerrar essa homenagem, um abraço em leque a todas aquelas que sempre lutaram esperando o melhor amanhã…
