Artigo: A contramão das conquistas: Alagoas!

Ana Cláudia Laurindo
Os brasões da monarquia desceram do topo, um tempo novo raiou na mentalidade brasileira e o desejo de progresso apresentava a República como uma grande conquista daqueles tempos! O povo participava de longe, executando, reproduzindo; os políticos e os estudiosos, conhecedores de outros movimentos traziam as influências das luzes para nosso país em formação. Oxigênio indispensável às manobras do poder ante o arcaísmo impregnado desde a colonização.

Para chegar à Democracia, outros tantos de luta, esforço de convencimento e conquista de espaço. Mortes, torturas, sangue escorrendo nas mãos impuras das autoridades; jovens sonhadores embalados nos mais terríveis pesadelos. História respeitável a nossa, na vergonha dos arcaicos e violentos, a vitória da juventude desaparecida e morta! Depois foi o povo a comemorar as Diretas Já!

Poucas linhas não contemplarão as nuances dessa luta! Trabalhadores brasileiros caminharam na conquista de direitos; muitos pagaram na carne o preço injusto que o poder do capital e do grande latifúndio impôs. Porque direitos não são ganhos nas terras tupiniquins, onde quem é dono do gado e da cana sempre se achou dono da mulher e do homem.

Hoje, século XXI! Globalização, tecnologia, planetarização em alta! Alagoas estabelece a caça institucional a grevistas!
Está proibido fazer greve. Ameaças de punições ecoam alto nos instrumentos midiáticos reproduzindo discursos estatais. As arbitrariedades e variadas formas de nepotismos passam silenciosamente diante dos controladores sociais. Aumentos salariais estratégicos, em fortalecimento das castas, são exibidos sem medo da opinião pública. Trabalhadores são mantidos abaixo da linha média do consumo, nos fazendo reviver os tempos do grande latifúndio, que só permitia a manutenção do corpo, para a execução do trabalho a cada dia.

Se as categorias profissionais gritam que mais que comer também querem viver, não são respeitadas, ouvidas. O poder judiciário se antecipa na defesa do silenciamento, um pacto de entrelaçamento entre os poderes. A força de quem vence ante a fraqueza do antecipadamente vencido! Uma trágica contribuição do judiciário local à memória social alagoana.

O resultado imediato é o descompromisso e a ingerência daqueles que são blindados e ironicamente, têm a obrigação histórica de responder positivamente aos clamores sociais. O resultado em médio prazo será o agravo dos baixos índices de desenvolvimento humano e o recrudescimento da ortodoxia política, escolhendo entre as instituições quem guiará o leme desse estado, até o naufrágio absoluto da democracia. O futuro previsto é a ressurreição do que se pretendeu superar quando a ânsia por liberdade levou nossos jovens ancestrais a sonhar com a República.

Na contramão da história, cada passo é um regresso, um retrocesso. Alagoas já conseguiu o topo dos piores índices sociais, na indiferença, omissão e descaso do poder público e agora luta por mais um, se tornará o estado que mais pune trabalhador grevista. Quem se envergonhará? Quem vai tirar o chapéu? Quem ainda vai votar? Quem vai ser oposição? Tudo é política, admitamos ou não.

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