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Arthur Lira e a senha do golpismo

Arthur Lira não está sozinho na tentativa de golpe para implantar na marra um sistema semipresidencialista. Há empresários- a turma do dinheiro- que pressionam por um modelo mais próximo possível ao de Israel, com um primeiro-ministro quase absoluto no poder, um presidente da República decorativo e as forças populares esmagadas.

Lira é o porta-recados, o comensal desta gente.

Foi no ano passado, ano de eleição presidencial e em meio a um país conflagrado por ameaças de Jair Bolsonaro, que Lira implantou um grupo de trabalho na Câmara para apresentar uma proposta semipresidencialista.

Não era um contexto qualquer. Bolsonaro gritava, para todos ouvirem, que as urnas eletrônicas eram fraudadas, ventilava um golpe de Estado, atacava o Supremo Tribunal Federal – para dissolvê-lo, se conseguisse um golpe- e tomava como suas as forças armadas.

Ameaçava para conseguir apoios num pretenso golpe. Hoje as investigações, as manchetes nos jornais e as declarações do ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino mostram, aos borbotões, os planos de Bolsonaro, a tentativa de explosão do aeroporto de Brasília, a insistência na fraude nas urnas, o 8 de janeiro.

Voltando a Arthur Lira: a cruzada para a mudança de sistema foi tamanha que, em 5 de maio do ano passado, em Portugal, o presidente da Câmara teve o disparate de pedir apoio internacional para implantar o seu semipresidencialismo.

Foi ainda mais longe cinco dias depois, dia 10 de maio, em evento realizado pelo BTG Pactual, nos Estados Unidos. Quis apoio do mercado para a mudança de sistema político: “Um primeiro-ministro escolhido pelo presidente, votado pelo Congresso, que precisará de 100 mil, 80 mil, na sua base para voltar ao Congresso. Seria um governo de corresponsabilidade, de ônus e bônus, é isso que o Brasil precisa”.

A ideia não era mostrada nos palanques nem nas ruas. Porque no presidencialismo lirista, o povo elege um presidente sem poder de governar. E o primeiro-ministro é escolhido pelo parlamento.

O chefe do Executivo é de araque e o povo, também.

Em agosto, na campanha presidencial, Lula foi entrevistado pelo Jornal Nacional e mostrava irritação com a proposta de Arthur Lira. Ele não foi questionado sobre o que achava do semipresidencialismo. Mesmo assim falou:

“O Bolsonaro sequer cuida do orçamento do Brasil. Quem cuida é o Arthur Lira. Os ministros ligam para o Lira, não pra ele. Temos que acabar com essa história de semipresidencialismo no regime presidencial. O Bolsonaro parece um bobo da corte”.

O deputado federal se comporta como um soberano porque está acossado: Flávio Dino insiste nas atribuições constitucionais do parlamento e lembra que estamos num presidencialismo. Em Alagoas, as bases eleitorais de Arthur estão desabando. Dos 102 municípios, Renan Calheiros, seu opositor, tomou 80 e mais e mais prefeitos deixam o lirismo. Só tem como sua a Prefeitura de Maceió e o prefeito JHC está arrependido: um mês após uma grande festa celebrando a aliança com Arthur Lira, o que se assiste é a fome e sede por cargos comissionados sem contrapartida: dinheiro federal para tocar obras na capital.

Corrigindo: é injusto dizer que Maceió não viu ações de Arthur Lira. Na saúde, o maior beneficiado é o Hospital Veredas, que é privado (com atendimento SUS) e a direção financeira é de Pauline Pereira, prima do deputado. No início de maio anunciou-se a liberação de R$ 15 milhões via União para pagar dívidas, principalmente as trabalhistas. Semana passada ex-funcionários fecharam o principal corredor de transportes de Maceió, a avenida Fernandes Lima em protesto por meses de salários atrasados.

Na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), as doações de máquinas, veículos e equipamentos seguem soltas para municípios. Encabeçada por Joãozinho Pereira, irmão de Pauline e indicado por Arthur, a estatal doou R$ 1,4 milhão no primeiro trimestre deste ano, segundo levantamento da Folha de São Paulo. Em 2022, neste mesmo período, foram R$ 5,9 milhões.

E Joãozinho Pereira sempre elogia seu padrinho político. Lembra que o dinheiro da Codevasf tem rosto: o de Arthur Lira.

Há uma tentativa em curso de um golpe. Bolsonaro tentou e deu errado. Arthur Lira agrega seu pequeno grupo para arrastar o país ao precipício. Seus pequenos interesses estão em jogo mas ele arrisca quase tudo. No final, pode ficar sem nada.

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