Argentina: viúva lembra como Evita ajudou a família do marido

Luciana Rosa – Terra

Eva Perón, cuja morte completa 60 anos nesta quinta, escreveu, em sua autobiografia, que gostaria de ser lembrada como a mulher “que levou ao presidente as esperanças do povo”. A família de Francisco Palmieri, um filho de imigrantes italianos, é um exemplo que pode ilustrar este desejo. Ele tinha pouco mais de 20 anos na época em que Juan Domingo Perón, marido de Evita, estava no poder. Hoje, Elsa Belsito, 86 anos, sua viúva, lembra como a então primeira-dama ajudou seu marido.

Ela conta que Palmieri era um dos muitos trabalhadores que sofreram com os reflexos da crise gerada pela queda da Bolsa de Nova York, em 1929. A Argentina, assim como muitos outros países da America Latina, era exportadora de matéria-prima aos países industrializados. Após a crise, teve dificuldade para dar vazão à produção, causando um desaquecimento da economia. Muitos trabalhadores da época acabaram sem trabalho e, consequentemente, em péssimas condições de vida.

“Em 1945, Francisco estava desesperado por trabalho e, como era simpatizante do Peronismo, seus amigos lhe sugeriram que escrevesse uma carta à Evita, pedindo-lhe um emprego”, conta Elsa. Se não bastasse o contexto de crise, Palmieri tinha uma doença que o impossibilitava de seguir nos poucos trabalhos que conseguia. Uma vez contratado, cada vez que o torneiro-mecânico se submetia aos exames médicos, seu diagnóstico era desfavorável e ele era obrigado a retornar às filas do desemprego.

“E quando ele finalmente tomou coragem e escreveu a Eva, sua resposta foi positiva. Ela lhe indicou uma fábrica onde talvez o aceitassem, apesar de suas poucas chances. No entanto, aconteceu o mesmo que nas vezes anteriores, e Francisco não passou da primeira fase”, relata a viúva. Mas esse não foi o último capítulo da história da família Palmieri e sua fé na postumamente denominada Santa Evita.

“Francisco tinha outros quatro irmãos, e um deles, Donato Palmieri, de apenas 20 anos, sofreu um acidente enquanto prestava serviço militar. Durante um teste de combustível dos aviões da Base Aérea de Mendoza, ocorreu uma grande explosão, na qual o Donato pereceu, junto de outros companheiros”, relembra Elsa. Segundo ela, Ana Dieli, a mãe de Palmieri, tentou obter uma indenização, mas a burocracia a impediu.

“Minha sogra resolveu apelar a Eva e reinvindicar o direito de receber pelo filho que morreu honrando a pátria. Um certo dia, depois de percorrer mundos e fundos para que alguém lhe desse atenção, foi pessoalmente falar com Eva, no gabinete onde ela atendia aos descamisados”, conta Elsa. Evita a recebeu e, depois dessa ocasião, finalmente Ana Dieli teve acesso à indenização. “Com esse dinheiro ela construiu a casa onde passou toda sua vida”, completa a aposentada.
O dia da despedida.

Questionada sobre o dia da morte de Evita, Elsa não hesita: “O dia da morte de Eva, 26 de julho de 1952, eu me lembro como se fosse hoje. Era um dia cinza, uma garoa fina caía do céu. Às nove e meia da noite ouvimos no rádio a notícia do falecimento. Logo em seguida, eu lembro de ver minha sogra se arrumando para juntar-se aos milhares de argentinos que foram dar seu último adeus a Evita. E, desde então, já se vão 60 anos!”, encerra.

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