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Após corte do Bradesco, HSBC e Santander estudam reduzir juro do cartão

Agência O Globo

Diante da redução dos juros do cartão de crédito pelo concorrente Bradesco, HSBC e Santander informaram que estudam a possibilidade de fazer cortes, mas não deram detalhes sobre prazos. O movimento dos bancos privados atende à pressão do governo pela diminuição das taxas e segue o exemplo de Caixa e Banco do Brasil.

O Bradesco anunciou nesta segunda-feira redução de 54% no juro de todos os cartões de crédito do banco. Os clientes terão taxas de 6,9% ao mês por atraso no pagamento e de 4,9% mensais nos parcelamentos da fatura do plástico. Até então, os juros eram de 14,9% e de 8,9%, respectivamente. Os novos porcentuais passam em 1º de novembro.

Todas as bandeiras (Visa, American Express, ELO e Mastercard) serão contempladas com o corte do Bradesco. Os cartões de lojas de varejo administrados pelo Bradesco também passarão a ter juro de um dígito, mas por causa da ampla gama de plásticos deste tipo, o banco não divulgou de quanto serão os novos porcentuais.

“Estamos nos preparando para essa mudanças desde o ano passado. Os bancos têm de fazer a sua parte, por isso estamos viramos a página de juro de dois dígitos para o cartão”, disse Marcelo Noronha, diretor-executivo do Bradesco, durante conferência com jornalistas.

O governo federal tem pressionado publicamente os bancos para que ocorram reduções nos juros de serviços relacionados ao consumo. Segundo Noronha, a decisão do Bradesco em diminuir as taxas de cartão de crédito tem a ver com essa pressão governamental.

“A decisão do banco é sempre tomada olhando para a sociedade. Temos uma pressão dos clientes. Mas há também a pressão dos órgãos de defesa do consumidor e do governo. O governo representa a sociedade”, detalhou Noronha.

Ele disse ainda que os bancos estão “colocando o produto (cartão de crédito) em xeque no Brasil” por causa das altas taxas. Para compensar a redução, Noronha disse que o Bradesco conta com ganhos de escala, além do aumento da quantidade de transações com plástico.

No início de agosto o Itaú Unibanco lançou um novo cartão de crédito com juros de 5,99% ao mês. No caso do banco, os juros menores vieram acompanhados de um novo modelo de cobrança em que o juro retroage para o momento de cada compra, nos casos em que o cliente não pagar o valor integral da fatura — diferente da cobrança de juros a partir da data de pagamento da fatura.

Reduzir a taxa dos cartões de crédito é a nova batalha do governo. No pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, em comemoração ao dia 7 de setembro, a presidente Dilma Rousseff demonstrou especial preocupação com o produto.

“Estamos conseguindo, por exemplo, uma marcha inédita de redução constante e vigorosa nos juros que fez a Selic baixar para cerca de 2% ao ano em termos reais e fez a taxa de juros de longo prazo cair para menos de 1% ao ano também em termos reais. Isso me alegra, mas confesso que ainda não estou satisfeita, porque os bancos, as financeiras e, de forma muito especial, os cartões de crédito podem reduzir ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final, diminuindo para níveis civilizados os seus ganhos para níveis civilizados”, disse a presidente na ocasião.

Pesquisa da Proteste mostrou que o juro do cartão de crédito no Brasil é de 238% ao ano, o maior entre 9 países pesquisados, entre eles México, Venezuela, Argentina.

O número é mais de quatro vezes o registrado pelo Peru, o segundo colocado, com taxa de 55%, muito próxima aos 54,24% do Chile. A Argentina é o quarto país com a maior taxa, de 50%, seguido por México (33,8%), Venezuela (33%) e Colômbia (29,23%). Nos EUA e no Reino Unido, a taxa é muito inferior, de 16,89% e 18,7%, respectivamente.

Segundo Maria Inês Dolci, diretora da associação, os resultados das pesquisas sempre foram enviados ao governo, sem qualquer resposta. Desta vez, o Planalto procurou a entidade para dizer que tomaria uma posição.

“O governo nos informou que reduzir o juro do cartão de crédito seria a próxima bandeira deles, depois da redução dos juros do empréstimo”, conta Maria Inês.

Em setembro, o bancos federais — Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal (CEF) — anunciaram corte de juros dos cartões de crédito. No caso do BB, as taxas para parcelamento das faturas dos cartões Ourocard caíram em cerca de 30%. Segundo o BB, as taxas saíram do patamar de 2,88% a 5,7% ao mês para o intervalo de 1,94% a 3,94% ao mês. Na Caixa, a redução na taxa anual do rotativo dos cartões de crédito chega a até 52% e no parcelamento de Fatura, o corte na taxa anual de atinge 36,87%.

Entre as instituições privadas, o Itaú Unibanco já havia ensaiado um movimento nesse sentido. Ainda em agosto, o banco lançou um novo cartão com juro fixo de 5,99% ao mês (o equivalente a 100,99% em 12 meses) e mudanças na forma de cobrar pelo atraso no pagamento. Quando o cliente entra no rotativo, aquela taxa retroage para o dia da compra, repetindo o modelo de cobrança de empresas nos EUA.

A discussão de cobrar o parcelamento de compras é antigo, afirmou Renan Ferraciolli, diretor do Procon-SP. Ele ressaltou que é preciso haver muito debate para definir uma mudança nesse sentido.

“Tanto o consumidor quanto o comerciante dependem desse parcelamento. Esse é o modelo de consumo que temos e não pode ser alterado de uma hora para outra”, afirmou.

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