Apoio às bibliotecas

Uma das informações que de fato nos preocupou, que confirma um aspecto que conhecemos bem e pelo qual a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil se bate desde sua criação, foi a de que 75% da população nunca frequentaram uma biblioteca

Beth Serra- O Globo

Às vésperas de um novo Salão do Livro para Crianças e Jovens foi divulgada a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. São importantes as conclusões dessa análise, principalmente no que se refere ao papel do professor, pois ele tem função decisiva na formação leitora dos alunos. Outro dado importante foi a queda da média de livros lidos por ano, de 4 para 2,1. Uma mudança de método nessa pesquisa de 2011, em relação à anterior, de 2007, certamente colaborou com esse novo número aferido. Isso porque, na anterior, o entrevistado tomava conhecimento do tema antes de responder às perguntas. Ou seja, saber previamente sobre o assunto em questão pode ter interferido nas suas respostas, como, por exemplo, ao aumentar o número de livros lidos. Pela nossa experiência empírica, vemos a realidade de maneira diferente. Há mais pessoas lendo do que liam antes. Podemos citar alguns motivos muito concretos: fala-se mais na importância da leitura, há mais livros de literatura disponíveis do que havia antes, principalmente nas escolas, e o poder aquisitivo da sociedade melhorou.

Uma das informações que de fato nos preocupou, que confirma um aspecto que conhecemos bem e pelo qual a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil se bate desde sua criação, foi a de que 75% da população nunca frequentaram uma biblioteca. Nossas escolas não valorizam a biblioteca como espaço social de leitura e como espaço de troca. Não é surpresa, para mim, esse percentual. Por quê? Primeiro, raras são as escolas que podem dizer que possuem bibliotecas no sentido universal do termo, e, segundo, não se ensina na escola a cultura do uso coletivo de livros, e, em um país onde as famílias não têm oportunidades de contato com a cultura escrita, isso é muito grave.

Quando a fundação criou a Ciranda de Livros, em 1982, um projeto pioneiro de distribuição de livros de literatura nas escolas públicas brasileiras, a iniciativa não partiu do governo, e, sim, de empresas privadas. Somente em 1987, o governo criou o seu programa, Sala de Leitura, semente do atual Programa Nacional de Biblioteca da Escola. Em sua raiz, o projeto oficial da educação brasileira não contempla a biblioteca na escola, o que expressa a ausência de um compromisso com a democratização do acesso à literatura. Essa ausência é tão patente que só em 2010, por pressão da sociedade civil, foi sancionada uma lei que obriga todos os estabelecimentos de ensino do país a construírem bibliotecas até 2020.

A função social da biblioteca pública, e a necessidade de que essa ideia venha a fazer parte do projeto pedagógico das escolas, ainda precisa fincar raízes na área da educação. O governo precisa avançar nessa direção.

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