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Ao Maranhão de Flávio Dino, nossa torcida

Chegamos ao Maranhão pelo Piauí, em uma viagem que também pode ser compreendida como pesquisa de campo ou novo campo de trabalho, haja vista ser o olhar que prescruta aquele mesmo que apaixona, registrando e analisando a história.

Talvez não seja possível limpar de todo o etnocentrismo, mas o esforço consciente deve voltar-se a isto com empenho.

E o primeiro encantamento é desperto pela palmeira dançarina que visita os brejos e lagoas, como uma equilibrista com a sombrinha aberta, despejando em cachos o gracioso buriti. Contam no sertão que em uma lagoa hoje seca – Lagoa da Santa Rosa, um destes belos pés de buriti andava pelas águas, com um empurrãozinho dos encantados, talvez espíritos de índios e outros caboclos que um dia viveram por lá. Tem testemunha ainda viva, dizendo que por lá a mãe d´água também aparecia. Não ouso desacreditar.

Embrenhar-se pelo Maranhão é uma experiência deveras enriquecida, observando a destreza de um povo que convive com os desafios dos vínculos oligárquicos a reclamar adesão eterna, e propostas de mentalidade política renovada, causando êxtase e desconforto, ao mesmo tempo.

Foi assim que observamos as primeiras casas feitas de taipa com cobertura de palhas de babaçu, outra palmeira generosa, porém, símbolo dos riscos e dificuldades de materialização da vida, no perigo do extrativismo artesanal que estoura o coco no gume afiado de um machado, ao encontro das mãos. Se não sabe, não arrisque quebrar um destes jamais!

A rusticidade das habitações leva nossa formação asséptica a imaginar de imediato o barbareiro, um tipo de potó que gosta de reproduzir nas frestas da taipa, sendo vetor da Doença de Chagas, uma enfermidade temível, com fases sofridas, chegando a ser fatal. Mas o povo elogia o frescor destas casas nos dias de verão, e convive com as informações que chegam, talvez, tomando os cuidados necessários; talvez ignorando saber, ou mesmo sem ter outra forma de fazer, segue vivendo.

O primeiro impacto cultural é agradável, pois a culinária fala de um tempo com sabores antigos e nativos. Aos poucos, porém, os ventos trazem sons de fala, poucas reclamações e algumas histórias que retratam a distância da democracia e cartilhas cidadãs, nas réstias do poder hegemônico que encaliçou algumas dores e viciou muitos sentidos. Algo que a priori ousamos definir como saudade do opressor.

Na materialização sentida da vida com recursos parcos e abundantes, a depender do sentido interpretativo, o olhar de fora não deve ultrapassar o fio tênue do respeito ao tempo histórico do lugar. Conglomerados autônomos e senhores das ações e reações, eles se transformam em conjunto capaz de justificar a nossa análise como região, como nação.

O Nordeste nunca precisou de oligarquias, e na verdade, tem convivido com elas pela força que utilizam na instalação e manutenção de seus tentáculos, agarrando os poderes e as energias que freiam a economia, direcionando os fatos com astúcia.

Inegável porém, as marcas psicológicas, que desenham nas gentes. Como as vespas que anestesiam a presa para se reproduzir se alimentando de suas carnes quentes; matando o próprio alimento sem que este sinta, porque vai encontrar outras fontes logo mais à frente. Assim age o poder oligárquico, no Maranhão e em qualquer outra parte.

Empobrecimento, analfabetismo, etnocídio; vias de alimentação certeira do poder concentrado em pseudos-donos dos territórios políticos brasileiros.

A preservação de alguns lugares prima por aspectos ainda primários, onde podemos encontrar algum idílio, mas quase impossibilidade de acessos aos instrumentos deste século. Não prezamos pelo dualismo do bem e do mal, nenhum fenômeno se revela assim. Há mais complexidade do que podemos imaginar, em uma mera viagem, ainda que se observe, ouça, e registre para análise.

Falando de fora: o atual governador do Maranhão, Flávio Dino, desponta como liderança altruísta aos olhos do Nordeste e do Brasil.

Talvez por ter desbancado uma oligarquia enraizada, na conquista do atual mandato. Contudo, há saudade do passado em vozes populares, que reclamam a diminuição das festas grandiosas com as quais as gestões referendadas pelo mesmo sobrenome, Sarney, lhes alegravam.

Onde falta empenho da gestão Flávio Dino? As respostas apontam para as festividades de calendário, que atraía turistas e trazia sensação de prosperidade por alguns dias. Alguns viravam a face para o atual governador, que organizou tabelas de impostos. Outros trouxeram facetas imaginárias para se aninhar na certeza de que o Maranhão precisa dos Sarney. Breve demonstração de que não se arrancam raízes socialmente plantadas com facilidade, principalmente na condução de processos políticos.

Os simpáticos ao atual governo vibram com seus gestos de valorização das pessoas as quais se dirige, cumprimenta, empodera em discursos aplaudidos. Mas também lamentam a manutenção de secretariado extremamente representativo do passado. É como olhar por uma vidraça nova e ver a mesma paisagem! Há desejo de novos perfis políticos no governo, também nos escalões médios.

Fora do Maranhão, Dino cresce!

Dentro do Maranhão, há oscilação.

Sarney pai já anunciou que volta a domicílio eleitoral maranhense.

Abraçamos a proposta progressista de Flávio Dino, assim como foi um prazer lhe abraçar nesta visita. E torcemos para que os protagonistas desta história encontrem as vias de preenchimento das lacunas, em benefício da história, das vidas das pessoas, e elevação do nosso Brasil, que no geral, respira com aparelhos e inspira cuidados desvelados com sua insipiente democracia no leito do golpe.

 

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