Ando onde há espaço

Coaracy Fonseca é promotor de Justiça e ex-procurador Geral de Justiça

Tomei de empréstimo uma frase de um soneto de Vinícius de Moraes, à guisa de título.

Saber o que poeta quis dizer com essa frase pouco importa, pois ela não mais lhe pertence, desde o instante em que a lançou ao vento.

Alagoas é uma província diferente, cheia de signos e códigos que só os que vivem aqui conseguem entender.

É uma terra que pode ser cruel demais para os dissidentes. Mas tem mares tão azuis quanto à Sicília.

Certa ocasião, ouvi de uma interlocutora muito enfronhada a seguinte frase: “aqui quem eles não compram eles invalidam”.

Eles quem? Perguntei de mim para mim, num solilóquio íntimo. Indagações as fiz a mais não poder.

Referia-se a interlocutora ao sistema, ao qual ela mesma estava irremediavelmente presa em suas redes de aço, era uma fâmula deles, os que compram e são responsáveis por nossos problemas estruturais.

Guardei comigo a frase, dita por alguém que sabia de muitos segredos e condutas, só revelados em canapés e alcovas. Os segredos do quarto de dormir.

Para Kant, as coisas são medidas pelo preço, os seres humanos têm a sua medida em dignidade.

Deixar-se precificar é abrir mão de algo caríssimo: a liberdade de viver e ser o que é, em nossa peculiar diversidade.

No entanto, nenhum afirmação pode ser tomada de modo absoluto, pois há muita gente, não gente pouca, que não se enquadra em quaisquer das hipóteses. Honram o nosso torrão natal.

Se tentaram comprar-me, não raras vezes, jamais direi, sequer sob intensa tortura, pois, certamente, teria sido o momento áureo de dizer: NÃO.

Por derradeiro, não me preocupo com o prestígio e a influência, “ando onde há espaço”. O resto é perfumaria.

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