Análise: Romney é candidato ‘hollywoodiano’, mas com fraquezas

Mark Mardell – BBC

Mitt Romney se encaixa no papel. Ele parece o tipo de homem que seria escalado para interpretar um presidente em um filme de Hollywood.

Confiante, distinto e boa-pinta, com um sorriso fácil. O pai da nação americana.
Mas a Casa Branca espera que essa imagem seja seu calcanhar-de-aquiles e quer transformá-la em uma vulnerabilidade.

Com a vitória nas primárias do Texas, na última terça-feira, Romney garantiu o número de delegados necessários para ganhar a indicação do Partido Republicano para concorrer nas eleições de novembro.

A nomeação do candidato republicano será oficializada na convenção nacional do partido, marcada para agosto, na Flórida. Ele irá disputar a eleição de 6 de novembro com o presidente Barack Obama – que busca um segundo mandato.
E algumas pesquisas de opinião sugerem que Romney está próximo de Obama nas intenções de voto.

Desde o início da campanha de primárias republicanas, Romney despontava como favorito.

Mas a campanha foi amarga e penosa, enquanto os candidatos republicanos trocavam acusações e os eleitores do partido testavam um candidato após o outro para decidir quem competirá com Obama.

O problema central é que os eleitores não têm certeza de que Romney seja um conservador real. Ele foi acusado de mudar de opinião em diversos assuntos.
Mas isso importará menos a partir de agora, enquanto outras fraquezas suas importarão mais.

Até agora, ele não conseguiu inspirar seu eleitores. É um bom homem de debates, mas um orador inconstante. Ele não tem “aquilo” – não é um candidato de carisma.

Os democratas estão usando como trunfo o fato de Romney vir de uma origem privilegiada e rica. Ele teve dificuldades, por exemplo, em gerar empatia entre os trabalhadores fãs da Fórmula Nascar: em um discurso, Romney disse que não acompanhava o esporte, mas que alguns de seus amigos milionários eram donos das equipes que disputavam a corrida.

Ao tentar dialogar com os trabalhadores da indústria automotiva em Detroit, ele disse entender seus anseios porque sua mulher é dona de alguns Cadillacs.
Ele também disse que gostava de demitir pessoas. Era uma piada, e foi tirada de contexto de forma grotesca, mas uma piada que não teria sido feita por nenhum político mais afinado com sua época e suas próprias vulnerabilidades.
Botas de caubóis

Os americanos não guardam rancores dos mais ricos. Não são automaticamente suspeitos do enriquecimento de políticos bem de vida. Mas eles gostam que seus candidatos usem botas de caubóis, falem em termos rústicos e deem a entender que, no fundo, são apenas gente comum.

Mas a imagem mais memorável de Romney é uma dele ao lado de sua equipe da Bain Capital (a empresa de private equity da qual ele foi chefe), com notas de dólares nas mãos, nas bocas e saindo dos bolsos de seus paletós.

O fato de Romney não parecer um homem do povo será explorado pela equipe de Obama, bem como a forma de como o candidato republicano enriqueceu – críticos acusam a Bain Capital de ter feito fortuna com um “capitalismo de abutres”, promovendo demissões de trabalhadores nas empresas compradas por ela.

Obama já disse, em uma recente reunião, que o estilo usado por Romney na condução da Bain Capital “não é uma distração. É sobre isso que se tratará a campanha”.

Em outras palavras, a campanha democrata será sobre como dar mais riqueza ao povo, e não sobre como fazer com que um grupo menor prospere mais.

‘À direita e retrô’

Além disso, a equipe de Obama também tentará promover a imagem de Romney como muito à direita – não apenas conservador, mas antiquado.

Quer retratar o republicano como alguém desconectado que tenta trazer o passado de volta. Em uma matéria da revista New York Magazine, um estrategista democrata não identificado disse que Romney representa “os anos 1950, o retrô, o atrasado – e nós somos para o futuro – essa é a (estratégia) básica”.

“Se você é uma mulher, ou hispânico ou jovem, ou se você se sentir abandonado (pelo governo), você olha para Romney e diz: ‘Esse cara quer que as coisas voltem a ser como eram, e, adivinhe, eu nunca fui parte daquilo'”, disse o estrategista.

Talvez Romney seja o tipo de homem que despertasse o interesse de executivos de Hollywood em algum momento, mas ele não se parece muito com grande parte dos EUA.

Ao mesmo tempo, cada vez que assisto a Romney ele parece mais astuto. Talvez a dureza de uma campanha primária o tenha moldado, feito com que ele ficasse mais atento para não se machucar.

Mas sua equipe terá muito trabalho. Eles ainda não conseguiram definir o seu apelo – sabem ao que ele faz oposição, mas não ao certo o que defende.

Seus estrategistas ainda não encontraram uma narrativa coerente que responda a suas fraquezas.

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