Alagoas tem uma das piores avaliações do SUS no País

Avaliação do SUS feita em todos os estados pelo Ministério da Saúde mostra que Alagoas tirou 5,43 no desempenho, o 11o pior do Brasil

Faz seis meses que a dona de casa Silvânia da Silva Rocha tenta marcar um mastologista. O exame na mama é para prevenir o

Irene Vieira de Souza ao lado da também aposentada Valdeci França da Silva

câncer. Problema é que o médico faltou duas vezes- e as consultas são adiadas. Nesta quinta-feira, dona Silvânia chegou cedo, enfrentou fila e, no início da tarde, voltou de novo para casa, sem o exame. Volta no dia 22 de março.

– Não tinha médico, foi o que disseram. Espero que tenha no dia 22.

2.600 pessoas- entre pacientes e acompanhantes- passam, todos os dias, pelo PAM Salgadinho- o maior posto de saúde de Alagoas, atendendo exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. Ele é referência no Estado em todas as especialidades- até acunpuntura.

Apesar da importância, é um dos lugares mais caóticos da saúde pública. Avaliação do SUS feita em todos os estados pelo Ministério da Saúde mostra que Alagoas tirou 5,43 no desempenho, o 11o pior do Brasil.

No PAM Salgadinho, Geraldo Antônio da Silva trazia encaminhamento do Hospital Universitário- no outro extremo da cidade. Andou 2h30 de ônibus, esperou, enfrentou fila. Aguarda há dois anos para marcar um exame. A notícia veio do atendente:

No PAM Salgadinho, demora, caos e reclamação

– Esse médico se aposentou e não tem outro.

– Pois é, e como eu fico? Estamos lascados no SUS, disse.

– Pois é meu filho, eu tenho a proteção de Deus porque ele nos dá pouco. Mas, nos dá. Eu já fiz meu plano funerário. O pobre não tem a quem se apegar. Vai pedindo a um ou a outro, disse a aposentada Irene Vieira de Souza ao lado da também aposentada Valdeci França da Silva. A ficha de dona Irene é a número 3. Espera ser atendida no PAM. Viajou 123 quilômetros, de besta, para ser atendida  mas a médica desmarcou o horário. Ao invés de ser pela manhã, será à tarde.

Geraldo Antônio da Silva: dois anos à espera de exame, no PAM Salgadinho

Na fila e nos corredores, as pessoas reclamavam e citavam nomes de políticos que eram “donos” de postos de saúde na capital

– Tem o Davi Davino, um deputado, o Antônio Holanda. Cada um manda em um bairro, disse Maria Anália. Trouxe os dois filhos ao PAM.

– Conheço deputados e vereadores. Meu cunhado tem um programa na televisão.Só não procuro porque gosto de estar no meio do povão, disse.

– O problema é que entre 20% e 30% das pessoas desistem do atendimento e isso prejudica quem chega ao posto. Quanto a troca de horário de médicos ou falta deles, essa informação não procede, disse o diretor administrativo do PAM, Almir Amaral.

A crise na área da saúde pública pode ser sentida também na 14a Vara Cível da Capital- a 10 quiômetros do PAM Salgadinho. 90% dos cinco mil processos se referem a pacientes que entram na Justiça para comprar um medicamento caríssimo- alguns custam R$ 50 mil. Sem dinheiro, recorrem à Defensoria Pública. A demanda é tão grande que os defensores criaram uma área só para atender casos de saúde.

E os problemas são tantos que o defensor público Ricardo Melro chegou a defender ano passado, que as mulheres grávidas fossem parir em outros estados. Isso por causa da superlotação das maternidades e o fechamento da Santa Mônica- a única que recebe gestantes de alto risco do SUS- por causa do surto de uma superbactéria.

– A 14a Vara atende a toda Maceió. Imagine dá conta de cinco mil processos- de casos de saúde a improbidade administrativa. Os de improbidade ficam para trás. Nenhum juiz quer ser responsável pela morte de um paciente que precisa de um medicamento e não recebe em tempo hábil, disse o promotor Marcus Rômulo.

Contactada, a 14a Vara não se pronunciou oficialmente. Mas, um funcionário disse que a Vara só tem um juiz, que trabalha às sextas-feiras. Isso porque de segunda a quinta, a juiza Soyara Maranhão tem de dar expediente no sertão de Alagoas- a cidade de Santana do Ipanema, a 212 quilômetros de Maceió, uma das maiores do Estado.

– Entramos com uma ação na Justiça, denunciando um esquema do lixo na Prefeitura de Maceió. A Ação de Improbidade é de novembro de 2010. Até hoje não foi julgada. Sabe o que aconteceu? As empresas ganharam a licitação, já que não havia denúncias contra elas. São as demandas de medicamento que passam na frente, disse o promotor Marcus Rômulo.

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