Alagoas pesquisa recuperação de seu complexo lagunar

 

(Crédito: Divulgação)
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Alagoas possui um dos mais relevantes sistemas estuarinos lagunares do país. Só o complexo Mundaú/Manguaba agrega em seu entorno cerca de 260 mil pessoas, e destas, cinco mil são pescadores, culminando num total de 81 km2 de canais, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA).

As Zonas Costeiras em geral, bem como as lagunas, apresentam formações diversificadas e que vem sofrendo grandes pressões, como ocupação humana, uso do solo e dos recursos naturais e exploração econômica. Porém, quando tais sistemas sofrem alterações, a academia visualiza a ampla necessidade de enquadrar estas disfunções em pesquisas.

Os chamados gerenciamentos costeiros têm como finalidade pontuar e orientar esses processos de ocupação na Zona Costeira, os quais são baseados nos recursos marinhos que ali se encontram. É neste aspecto que entra a importância das pesquisas, as quais vêm dar subsídios aos tomadores de decisões, órgãos ambientais e governos.

Neste ensejo a especialista em biogeoquímica marinha e doutora em geociências, Nilva Brandini, submeteu uma proposta de estudo ao Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (PDCR), operacionalizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). O projeto foi intitulado de “Aplicação de Modelos de Eutrofização, Metabolismo e da Produção Primária como Ferramentas para Gerenciamento Costeiro em Sistemas Estuarinos no Litoral de Alagoas”.

A ideia inicialmente surgiu devido aos problemas ambientais apresentados no complexo lagunar, principalmente voltados as florações de algas. Este problema reflete-se basicamente na qualidade da água, devido ao aporte de poluentes domésticos, industriais e agrícolas.

Neste caso são avaliados três sistemas distintos, as lagunas Mundaú́ e Manguaba (Complexo Estuarino Lagunar Mundaú Manguaba-CELMM), lagoa do Roteiro e o estuário do rio São Francisco. A professora cita que utilizou para tanto, a aplicação de índices do estado trófico, para medir o aumento da concentração de nutrientes nos ecossistemas aquáticos, a partir de modelos que estivessem suscetíveis a este processo.

Este modelos e índices podem dar subsídios e contribuir, por exemplo, em previsões de cenários futuros, como também na resposta a uma série de perguntas, como: Se for empregado o fechamento das torneiras de entrada dos esgotos, e aplicar 100% do saneamento básico para proteger as margens, qual seria o cenário e quanto tempo levaria para se recuperar um ambiente degradado? Qual o preço deste procedimento? Todos esses ganhos serão pontuados e mensurados.

Aplicabilidade necessária

Tanto o CELMM como a Lagoa do Roteiro, vem sofrendo com o estabelecimento progressivo da cultura canavieira em grandes áreas agrícolas nas bacias de drenagem de seus rios, além de apresentar crescimento populacional desordenado nas suas margens. Atrelado a isto, sabe-se da relevância em estudar a quantidade de nutrientes na água.

Atualmente alguns grupos da sociedade já compreendem que as lagunas apresentam infinitos benefícios ambientais, sociais e humanos, e que estas são sensíveis a degradação. Os estudos englobam todos os aspectos, tanto econômico como social, explica Nilva Brandini.

Espera-se que o interesse pela preservação venha a aumentar ao longo do tempo, e esta foi uma das fortes motivações em voltar às pesquisas aos sistemas lagunares de Alagoas, principalmente em relação à qualidade das águas e a sua produtividade primária, que é a base da cadeia alimentar.

Um segundo fundamento seria investigar especialmente o prejuízo causado na atividade da pesca, graças à ruptura na produção primária de microalgas, o alimento natural dos peixes.

Com o sistema poluído este procedimento impede a formação da nutrição natural desta cadeia, ao jogar nas águas esgotos domésticos, industriais e da agricultura, provocando a eutrofização. Este processo ocorre através do enriquecimento dos sistemas aquáticos pela grande quantidade de nitrogênio e fósforo disponíveis na água. O viés desta teoria é que, o processo provoca a diminuição de oxigênio na água e em consequência a mortandade de peixes, além da produção de toxinas que provocam doenças.

“Paralelo a isso, tem-se também o prejuízo no turismo, pelo fato da água produzir odores desagradáveis prejudicando o lazer. Por todos esses aspectos vê-se a importância em pesquisar sobre o comportamento e os processos físicos e químicos da produtividade algal”, endossa Nilva Brandini.

A pesquisadora explica que o crescimento da área urbana afetou no volume e na qualidade da água, principalmente pelo lançamento de esgotos não tratados, provenientes das moradias localizadas próximas e nas margens das lagunas sem infraestrutura de saneamento. Outros fatores tais como, a entrada de lixo e esgoto são originados nas ruas e hidrovias e transportados através da drenagem superficial durante o período de chuvas atingindo o complexo. O transporte ainda complementa esta negativa, ele passa pela drenagem dos rios que traz resíduos da agricultura tais como fertilizantes, agrotóxicos e herbicidas.

Saldo atual da pesquisa

A partir dos diagnósticos preliminares foi constatado que existem neste contexto resíduos sólidos em praticamente todos os lugares, principalmente os plásticos. Já os resíduos químicos não são visíveis, mas sabe-se que estão presentes nas águas de esgotos urbanos e industriais tais como também a indústria da cana-de-açúcar.

Órgãos responsáveis por recuperar a qualidade destes sistemas estuarinos já cooperam em planejamentos estruturados para a recuperação da água. No entanto a continuidade das pesquisas é substancial para direcionar estes apontamentos e estratégias. A pesquisadora cita que conta com o apoio da Fapeal por intermédio do PDCR, e também da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A Fundação fomentou 24 bolsas no programa, mas enxergou neste projeto um carácter inovador, dado que o estudo aborda os parâmetros de aplicação para o gerenciamento costeiro do Estado de Alagoas e no nordeste ocidental brasileiro.

Saber quais foram estes impactos humanos embasa na tomada de decisões e elucida quais caminhos devem ser trilhados para o reestabelecimento e melhoria do percurso lagunar. O período para conclusão do projeto pode levar até 36 meses, com recursos entre 20 a 24 mil reais.

A pretensão da Fapeal é manter Alagoas um ambiente atrativo para pesquisadores que possam agregar ao estado, sinalizando um 2017 de pesquisas e construções em potencial.

Fonte: Com assessoria

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