Alagoas é laboratório social da turistificação do território, o resto é propaganda

Maceió (AL) 16/12/2023 – Os esquecidos pela Braskem – O pescador José Cicero 62 anos conversa com Agência Brasil contando um pouco dos problemas que a comunidade do bairro de Flexal de Baixo está passando, nas proximidades da mina n°18 da mineradora Baskem na lagoa de Mundaú. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Se Alagoas vende natureza ao turista ao alagoano sobra a expropriação do trabalho autônomo e as quinquilharias dos empresários pseudoconscientes e instituições especialistas em greenwashing. Ninguém parece discutir seriamente a questão ambiental, os recursos disponíveis para a economia popular e o trabalho de gente simples que vive de pesca, artesanato e pequeno comércio.

As propagandas do setor de turismo seduzem com a calmaria dos mares, dos rios e lagoas do estado, mas a realidade reificada na imagem do mercado esconde as peripécias sociais de um poderoso setor econômico que barganha seus interesses como representantes políticos e propagadores de ideologia.

O setor de turismo lucra com Alagoas ao mesmo tempo que a pauperiza, gera emprego sem direitos trabalhistas ou obrigações com quem trabalha: não agrega mobilidade social. Os ideólogos dizem: “nós garantimos o pão de cada dia do pobre”, mas a pobreza parece não retroceder em Alagoas e as condições de vida são duras.

Não é difícil se deparar com as contradições do discurso oficial sobre as maravilhas do turismo:

1) Uma parte da capital Maceió afunda, por isso, a Lagoa Mundaú e os que vivem da pesca podem estar correndo risco de perder o lugar de onde tiram seus sustentos.

2) As praias de Maceió são cheias de esgoto que correm há anos para o mar. Sempre houve reclamação por parte da população, nada foi feito; resta-nos a aceitação e observar quando banhistas saem correndo da praia por encontrar coisas indesejadas;

3) Os representantes das instituições responsáveis pela infraestrutura da cidade ignoram solenemente estudos científicos sobre vegetação litorânea e seu papel na contenção do avanço do mar e fazem contenção de concreto perdendo de vez as áreas de praia;

4) A cidade de Maceió ainda não tem Plano Diretor, mas as obras de urbanização, construções privadas problemáticas e áreas visadas pelas especulação imobiliária seguem a todo vapor criando novos empreendimentos à revelia da lei. O Plano Diretor é de 2005 e deveria ser revisado em 2014: o lobby dos empresários atrasa o processo.

Isso, é claro, não se restringe a Maceió. Nos interiores a coisa segue a passos ainda mais acelerados e o silêncio (ordem primordial do estatuto do poder alagoano) segue incólume.

Quando Odilon Rios denuncia a desigualdade em São Miguel dos Milagres (veja aqui) e no corredor de municípios que agora conhecemos como Rota dos Milagres, o vespeiro é açoitado: o ano de eleição vai condecorar agentes públicos com a satisfação de empresários a recebê-los com bons copos de Whisky, em jantares entre os mais íntimos, fazendo jorrar dinheiro sobre as quatro linhas da constituição – todo mundo sabe, mas ninguém vê.

É sol, é mar, é pau, é pedra e tudo contém os arroubos democratizantes ou minimamente cidadãos ao povo alagoano.

Em Maceió, o que orna o maior representante programático do setor de turismo é o prefeito JHC que agora tem 500 mil seguidores – assim comemora a comunicação oficial do município.

É detestável a crônica alagoana com suas nuances grotescas e aristocráticas. É igualmente horripilante e cafona a construção política de alguns personagens dessa “picuinha” lucrativa, mas o verão está aí firme e forte, os hotéis estão cheios, faltam mesmo são tons mais finos de cidadania.

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