Na frente da minha casa tem um terreno em construção. Na noite de ontem ele estava ocupado pelos vagalumes. Era um brilho em movimento, com pequenas tochas acesas circulando de um lado para o outro no meio do que ainda resta de mato.
Pensei nos adeuses das últimas horas.
Lembrei de uma frase advertindo que poderíamos ser as últimas gerações a conhecer vagalumes.
Razão: destruição do habitat.
Existem agora tantas outras destruições e tantas previsões de adeus; além de sermos uma geração que pode estar se despedindo dos vagalumes, também somos uma geração que assiste um genocídio acontecer em tempo real e testemunha a desconstrução da verdade enquanto conceito condutor para flutuar com a mente entre mentiras fabricadas mesmo tendo o corpo preso ao chão das impossibilidades que aumentam.
A complexificação da teia do domínio vence a inteligência humana cada dia um pouco mais.
Convence sobre a necessidade da violência como instrumento político, matando a força da argumentação lógica.
Grupos que precisam vencer grupos, liberam a si mesmos do entendimento dessa lógica de dor, que apenas beneficia o poder dominante, que a todos coage.
No final, talvez nem cheguemos a saber se fomos nós quem dissemos adeus aos vagalumes ou se eles estão se despedindo de nós.
A vulnerabilidade chegou a todas as vidas, com a naturalidade de quem senta para assistir as cenas dos próximos capítulos, como se o enredo fosse apenas entretenimento e não política de vida e morte.









