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Aborto, ser contra ou a favor? Não é só isso!

Um dos temas mais difíceis para uma palestrante espírita abordar na contemporaneidade por certo é o aborto. Durante muito tempo recebemos condicionantes morais que guiaram o instinto de recusa, e sem perceber, muitos de nós recusamos a mãe junto, sem lhe ouvir, sem olhar nas janelas da alma, talvez tenhamos feito o mais fácil, ou seja, nós lhe condenamos.

O foco no feto sempre foi tão intenso, que a história da mãe e/ou do pai nunca virou tema de estudos. A mulher, uma espécie de depositária dos créditos da divindade para gerar e parir novos corpos, possibilitando reencarnações na terra, se tornou alvo de acusações severas, com prescrições de sofrimentos atrozes e culpas pesadas, sempre na base do certo e do errado, dual e dogmático.

Aos poucos as discussões sobre aborto conquistaram espaço de debate para além do religioso, e adentraram a saúde pública. E assim como a discussão sobre outros temas tabus, como drogadição e alcoolismo, neste campo de análises ganharam outras conotações, com percepções mais aproximadas do drama real das mulheres.

Aborto não é apenas uma temática para ser debatida no âmbito da religião, mas também na perspectiva da saúde e vida da mulher!

Como seres racionais e civilizados, o exercício da audiência se nos impõe, e aos poucos, vamos percebendo a importância de ouvir as portadoras vivas dos dramas que costumamos solucionar com teorias e códigos morais decorados.

A romantização da maternidade joga um manto de ilusões sobre inúmeras vidas reais completamente desestruturadas pela maneira como ela pode acontecer. Vamos percebendo então, que existem temas sobre os quais a maioria de nós simplesmente não está cacifada para opinar, imagina debulhar sentenças!

Aborto então é caso de polícia! Muitos de nós defendemos que continue sendo. Porque ainda acreditamos, lá do auge da arrogância, que as proibições surtem efeitos, mas estamos enganados. A criminalização do aborto tem levado inúmeras mulheres inexperientes à morte precoce, por medo, por solidão extrema na hora de decidir sobre lidar com uma gravidez que lhe coloca na berlinda.

Em nossas palestras poucas vezes a condição feminina é abordada sob o ponto de vista da opressão, do machismo, do patriarcado, dos acessos e das desigualdades sociais.

Ainda aplaudimos os roteiros de sacrifícios por amor ao espírito reencarnante, mas poucos nos importamos com seus destinos depois de nascidos. A mãe sabe disso.

Descriminalizar o aborto não significa incentivar o aborto!

Condenar a mulher a lidar sozinha com as consequências que uma gravidez traz para a sua história, pode ser mais incentivo ao abortamento do que saber apoiá-la nessa hora.

Certo ou errado? Há muito mais do que isso na discussão sobre aborto. Precisamos amadurecer nosso discurso e embasar práticas humanitárias como sinal de crescimento espiritual.

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