Ícone do site Repórter Nordeste

A violência entre nós

Carlos Alexandre-Correio Braziliense

Dois moradores de rua queimados, um deles morre após horas de agonia. Um menino de 12 anos assassinado por causa de uma briga de trânsito. Uma mulher empurrada nos trilhos do metrô, em seguida a uma discussão de bar. Em um intervalo de poucos dias, o brasiliense se depara com uma série de acontecimentos reveladores da banalização da violência. Os três casos contêm algum ingrediente de imprevisibilidade, o que dificultaria em parte uma ação policial. É certo que a cidade de Santa Maria, onde ocorreram o atentado aos moradores de rua e a morte do adolescente, apresenta graves problemas de criminalidade. Mas não há teoria de segurança pública que encontre as causas objetivas de atos tão cruéis.

Mais do que eventuais falhas de policiamento, esses episódios demonstram como a sociedade brasileira — e Brasília não poderia fugir desse contexto — revela de forma explícita a intolerância. O caso dos mendigos pressupõe uma carga de preconceito, embora ainda não se tenha certeza da real motivação do crime. Em 1997, os agressores de Galdino declararam que haviam confundido o pataxó com um morador de rua, como se houvesse alguma distinção entre categorias de brasileiros como índios e moradores de rua. A investigação desse crime torna-se fundamental não apenas para esclarecer as circunstâncias do homicídio, mas também para alertar o poder público e as famílias a que nível se encontra a degradação de valores morais entre os jovens, como o respeito à condição humana e à consciência social.

Essa mesma intolerância se revela na morte estúpida do menino de 12 anos. Há dois agravantes que precisam ser mencionados para explicar essa tragédia: 1) O trânsito se tornou fonte de estresse social, de modo que um simples bate-boca evolui para um tiro; 2) Ainda é fácil adquirir armas de fogo, apesar das campanhas de conscientização.

Antes que floresçam discussões equivocadas sobre Brasília, vale lembrar que outras cidades brasileiras enfrentam dramas da violência profunda. No Rio de Janeiro, um rapaz foi espancado por tentar impedir o massacre de um morador de rua. Recentemente São Paulo parou para acompanhar o julgamento do assassino de Eloá. A violência está em todo lugar. O que fazer para combatê-la?

Sair da versão mobile