Rubem Azevedo Lima- Correio Braziliense
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, há dias, que a situação da economia brasileira “já passou do Cabo da Boa Esperança”, como se a imagem por ele escolhida fosse o caminho tranquilo e exemplar de Vasco da Gama para o Brasil resolver suas dificuldades. Esse almirante, porém, teve problemas para chegar a Calicute, na Índia, e, depois, cumprir sua missão nesse país. Historicamente, a metáfora do ministro não foi rota fácil para o almirante português, com piloto indiano, de Zanzibar. Camões, nos Lusíadas (Canto 1,78), fala das %u201Cgentes %u2018roubadoras%u2019, nas costas (o litoral), moradoras%u201D. Coisa séria.
Vasco da Gama chegou à Índia em 20 de maio de 1498, sendo recebido pelo rei hindu de Calecute, que o fez circular em carro principesco, levado a um templo religioso indiano, parecido com os da igreja católica. Numa coluna de bronze, havia uma imagem de mulher, que osmalabares disseram chamar-se Maria, mãe de Jesus, mas era a deusa Parvati, dos hindus.
Os árabes da África e da Índia foram expulsos de Portugal e da Espanha. Com a Inquisição existente nesses dois países católicos, deu-se a coincidência de conquistas coloniais por ambos, com a descoberta de novos mundos. Maometanos e judeus sofreram com isso. Bem assim a gente encontrada pelos descobrimentos %u2014 astecas, maias e índios, do Polo Norte ao Sul, nas três Américas. Portugal, Espanha e outros países exploraram a escravidão africana.
A intolerância religiosa, em nossos tempos, continua, mesmo em religiões afins. A política, na Inglaterra anglicana, como os evangelistas americanos, tem visão cautelosa sobre seus concidadãos de outras crenças. Irã e Síria punem as minorias religiosas. A Rússia de Putin castiga moças e rapazes por não terem religião. No Brasil, as minorias étnicas e sociais lutam por vaga nas escolas.
O Supremo trata do mensalão, não da viagem de Mantega. Que o STF, mesmo sem Inquisição, condene quem deve, dando ótimo exemplo, na História do Brasil, em termos de combate à corrupção em nosso país.
