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A terra treme: mineração ameaça boom imobiliário em Arapiraca

No próximo dia 22, será apresentado, na Câmara de Vereadores de Craíbas, um estudo da Universidade Estadual de Alagoas, a Uneal, sobre os tremores de terra registrados na região, todos associados às atividades de mineração da Vale Verde.

São muitos detalhes importantes, incluindo Arapiraca, que registra boom imobiliário, e está sob ameaça. A verticalização, ou seja, a construção de prédios pode colocar em risco os moradores, levando em conta que a mineração em Craíbas- a quilômetros de Arapiraca- não vai parar tão cedo.

Entre 2020 e 2025 foram 89 tremores registrados, apenas em Arapiraca. Comparando a períodos anteriores, entre 2015 e 2019, a quantidade era zero.

Já em Craíbas houve o registro de um único tremor entre os anos de 2015 a 2019. De 2020 a 2025, a quantidade saltou para 82.

Preocupação também com as outras cidades do entorno. Entre 2015 e 2019, os registros indicavam 31 sismos. Entre 2020 e 2025 saltou para 367. No total, 570 tremores catalogados, 31,78% deles em Arapiraca e Craíbas, com destaque para o período 2020-2025.

“Observou-se um aumento expressivo da frequência de tremores em Arapiraca e Craíbas a partir de 2020, coincidindo com o início da atividade mineral local e rompendo com o padrão anterior, quando os eventos sísmicos apresentavam-se de forma mais distribuída pelo território estadual. A análise dos dados revela que os sismos se concentram em áreas de intensa exploração mineral, situadas entre os limites de Arapiraca e Craíbas”, diz o graduando do curso de Geografia da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) William Almeida Melo, que integra o estudo.

Os dados dos sismos foram coletados pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LABISIS). E analisados pelos pesquisadores.

A Mineradora Vale Verde inaugurou a fase de implantação e testes em 2021. Em setembro daquele ano começou a extrair e embarcar minério de cobre, um trabalho que envolve o uso de dinamite para extração do metal.

Cruzando as datas dos tremores e as atividades da mineradora, percebe-se que elas coincidem. Os pesquisadores, porém, foram mais adiante. E perceberam que os tremores registrados pelo LABISIS tinham hora para acontecer e em alguns dias da semana eram mais frequentes. Geralmente ao meio dia e em maior quantidade às terças, quintas e sextas. Fenômenos ligados à indução antrópica, ou seja, uma ação realizada pelo homem, diz a pesquisa.

Segundo William Almeida Melo, mais um dado que reforça a relação entre os tremores e o funcionamento da Mineradora Vale Verde. “Os tremores são de baixa magnitude, porém recorrentes. Os impactos nas estruturas serão inevitáveis, rachaduras em casas próximas, afastando dos telhados e em caso de prédios as estruturas podem ser afetadas. Isso é uma preocupação para cidade de Arapiraca que visa a verticalização”.

A Vale Verde sempre negou a relação entre os tremores no agreste e as atividades de mineração.

Em setembro de 2023 publicou uma carta aberta em defesa das operações, negando os problemas e citando o Serviço Geológico do Brasil: “Um levantamento divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) mostra que Alagoas registrou 24 abalos sísmicos, em 13 municípios, entre janeiro e agosto de 2023. Segundo o SGB, os tremores não preocupam do ponto de vista geológico”, disse a mineradora, na época.

É amplamente sabido que a MVV utiliza as melhores tecnologias do mercado para a execução dos desmontes, dentro de rígidos parâmetros técnicos, dispondo sempre de relatórios enviados aos órgãos reguladores e à própria população craibense”, reforçou a empresa.

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