Ícone do site Repórter Nordeste

A piora da Continuidade em Alagoas

Luiz Eduardo Simões- Historiador Econômico

Sim, demos um tempo. Afinal, deve-se dar pelo menos uma chance a quem cai e a quem começa. Engana-se quem acha que o jogo sujo traz benefício: inexoravelmente, todo espertalhão descobre-se mais vítima do que beneficiário da esperteza.

Primeiro, demos cem dias. Nada. Esperamos as contas regionais trimestrais. Nenhuma reação. Esperamos fatos novos relevantes, algum plano de ação, mesmo que reciclado em forma ou substância, junto às sumidades locais. Nada, também. As tais sumidades parecem ter feito a coisa que mais sabem fazer nessas horas: sumir.

A impressão, olhados os dados das contas regionais de Alagoas é a de que não houve mudança – melhor seria dizer melhora – ligada à política econômica, nos últimos seis meses. Tudo bem que ainda restem outros sete semestres – Reacildo berra lá de seu banquinho que lhe custou muita adulação e incenso um “quinze, no mínimo” – para alguma reação. Mas é preciso ao menos dar alguma aparência de movimento, pessoal. É muito sedentarismo intelectual!

Vamos tentar quebrar essa barreira de timidez. Alguém poderia reciclar aquela ideia batida de que “Alagoas é um Estado federalizado”, pois “depende muito das transferências da União”. Com o ajuste fiscal do Governo, esse argumento ganha oxigênio e tem efeito humorístico involuntário menor do que atribuir o subdesenvolvimento alagoano à conjuntura internacional. Além disso, sempre permite alguma brecha de oportunidade para um enésimo programa de investimento ou auxílio. Claro que não vai se mexer um dedo na estrutura produtiva arcaica e subdesenvolvida de Alagoas.

Um outro luminar (sugiro até que usem gravatas de cor diferente) poderia defender uma outra estratégia: dissociar o discurso da estrutura de posse e passar o tema do subdesenvolvimento às questões de produtividade e incremento tecnológico. Isso mesmo: a culpa seria dos recursos, e não do uso extensivo que é dado a eles, por uma classe ociosa e improdutiva que os concentra. Equivale a dizer que é mais produtivo pregar um prego na parede com um iphone do que com a ferramenta “arcaica”, mas é só caprichar no nó da gravata que ninguém vai notar. Ajuda se você acrescentar termos incompreensíveis aos leigos, supostamente retirados do inglês.

Na atual conjuntura alagoana, é triste ver, de toda forma, que nem mais essas personagens caricatas se dispõem a colocar o bloco na rua. É como se lhes pairasse um medo paralisante da crítica e da possibilidade instantânea de um ridículo em rede nacional. Ou talvez um outro medo, o de descobrir que a questão do subdesenvolvimento alagoano passa necessariamente pela reestruturação da posse fundiária.

Com o questionamento da dívida pública, feito pelo economista José Menezes – uma exceção feliz – observa-se, no máximo, uma mistura de inação com estupefaciência, da grande maioria, ou quase totalidade.

O fato é que, afastada a espuma conjuntural da política alagoana, quase nada se pode notar de mudança estrutural na economia alagoana. E isso se deve a uma inação de política econômica. Algumas iniciativas pontuais, mais ou menos voluntaristas, permitem estreitar a semelhança com governos anteriores. Os resultados não se limitam a reproduzir o passado. O passivo se acumula, sobretudo em questões de segurança, educação e saúde. Os impactos reproduzem a imagem que Alagoas consolida, Mapa após Mapa da Violência, mas também pioram a estrutura, ao atribuir-lhe esse caráter de permanência. É por isso que sentimos alguém cavando no fundo do poço em que Alagoas parece tentar se estabilizar, há séculos.

Sair da versão mobile