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Narrativa sequestrada: o antissistema na propaganda de JHC

Por Silvio Rodrigo

JHC está à frente nas pesquisas eleitorais em Maceió. A posição que conquistou faz parte de estratégias e empreendimentos de sucesso: diálogo com a população, estreitar laços mais imagéticos que reais, despertar interesses comuns e atitudes políticas tão amarradas com o complexo: ideologia, imagem e necessidade que consolidou a hegemonia necessária para ganhar 72% de votantes, de acordo com a pesquisa Futura Inteligência, divulgada pela Exame.

Com oposição fraca, JHC fala nas rádios ser contra a oligarquia e detentor de uma nova política. Ele, e sua disposição pessoal, lutará contra bandidos, assinala a retórica do futuro. Contra o sistema, nascerá uma nova Maceió sob o testemunho conivente do próprio povo.

Eis a narrativa. 

A narrativa é uma rede de processos materiais que convergem em símbolos, representações e atividades cognitivas complexas. Ela não é o discurso acima de nossas cabeças, a subjetividade e o desejo que paira em irracionalidades inconscientes, é antes a materialidade do poder que aprendeu o jogo da linguagem dos pobres. Discurso e prática é atividade política e deste arranjo sofisticado surge a hegemonia.

Sem classe, pelo povo. Sem interesses maiores, mas pelo culto à personalidade do líder. A propaganda demonstra a intencionalidade racional dos fatos, da composição imagética da prática política. Jota, que é equipe, dinheiro e força de trabalho, aprendeu a se comunicar e a utilizar os afetos através da afirmação e não da negação. 

Ele não é “contra tudo que está aí”, pelo contrário, ele se afirma pelo que pode ser. Já uma parte da esquerda, embalada pelo amor moralista contra o ódio sem nome ou classe, abraçou-se com o que há de pior em Alagoas: a oligarquia. Esta é a base material/simbólica na narrativa antissistema de JHC. 

Sabemos, entretanto, que colocar-se em oposição à oligarquia não é fácil. Mas também é prudente lembrar que agarrar-se com ela nas ruas do bairro boêmio de Maceió, o Jaraguá, posando de “contradiscurso” e “(des)construção” é no mínimo bizarro, ainda mais quando isso vem com reduções problemáticas: “é o que temos para hoje”. 

A crise sistêmica da esquerda alagoana não pode apontar culpados sem antes reavaliar-se, para que saiba direcionar seus fluxos, positivar suas expectativas e deixar de ser a negação da totalidade política, dos rearranjos culturais, das necessidades práticas de subsistência da classe que representa. 

Eis a contradição. 

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