A luta de Malala

Carlos Alexandre- Correio Braziliense

Há oito dias a paquistanesa Malala Yousufzai luta pela vida. Na terça-feira passada, a adolescente de 14 anos foi vítima do extremismo do talibã. Blogueira e defensora do direito de as meninas paquistanesas terem acesso à educação, Malala foi surpreendida em uma emboscada enquanto ia à escola. Levou tiros na cabeça e no pescoço. Em estado gravíssimo, a adolescente será transferida para a Inglaterra, onde receberá tratamento intensivo para enfrentar as sequelas que a marcarão para o resto da vida. Em demonstração de intolerância exacerbada, o talibã não apenas assumiu a autoria do atentado como também anunciou que desferirá novos ataques à jovem.

Contra os tiros da milícia talibã, Malala só tem as palavras. O discurso de protesto da estudante é direto, incisivo, claríssimo. Em entrevista à CNN, ela defendeu a causa de milhões de crianças pelo mundo com frases curtas. %u201CEu tenho direito à educação. Tenho direito a brincar. Tenho direito a cantar. Tenho direito a falar. Tenho direito a ir ao mercado. Tenho direito a me expressar.%u201D

O sofrimento da adolescente paquistanesa tornou-se assunto mundial e provocou reações na semana em que foi concedido o Prêmio Nobel da Paz à União Europeia. Em que pese a gravidade da crise no bloco econômico e os riscos políticos aos esforços de integração, uma forte corrente alega haver situações mais urgentes que merecem a atenção da comunidade internacional. Frida Ghitis, colunista do New York Times, criticou a insensibilidade dos organizadores do Nobel, %u201Ccom tantos tiranos para enfrentar, tantos heróis para apoiar%u201D. A jornalista reforça a necessidade de se valorizarem as causas que não contam com o respaldo do poder político ou econômico. %u201CSó há uma única Malala, mas há incontáveis pessoas ao redor do mundo fazendo atos heroicos todos os dias, muitos colocando a própria vida em risco para acabar com a tirania, a fome e o analfabetismo%u201D.

O atentado contra Malala Yousufzai expõe os grandes dilemas sociais, ainda longe de uma solução. Entre a ignorância dos radicais e a impotência do Estado, os anseios individuais se entregam a uma batalha inglória.

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