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À espera de um Milagre

Em Alagoas, quando uma população interiorana se manifesta para trazer a público questões ambientais é para que nós fiquemos atentos pois as mudanças podem tardar, mas chegam, muitas vezes, de forma inesperada.

No cinema, Bacurau (2019) faz sucesso utilizando a simbologia para retratar a força do povo simples do Nordeste, que em sua aparente passividade e ingenuidade desenvolveu, através das relações com as condições materiais, a arte da sobrevivência.

Falo aqui de São Miguel dos Milagres, interior do norte alagoano que estava escondendo, até pouco tempo, os conflitos para além de seus milagres e belezas.

Aqui existem conflitos socioambientais violentos, onde são postas a prova as regras fundamentais da luta de classes em Alagoas: silêncio e complacência.

Os que ostentam a louvam a globalização fecham os olhos para os povos que carregam nos ombros o sopro dos originários e na face o fenótipo d’África.

São Miguel dos Milagres vive do turismo, da agricultura e da pesca, dádiva da natureza aos seus. Os olhos dos estrangeiros brilham pois é o chamariz de gente branca e rica, em contraste ao povo que vive no sol com suas redes e enxadas.

Aos poucos, os forasteiros chegam com seus hotéis de luxo e com a privatização das terras comuns. A praia tem donos e as vistas da natureza também.

O absurdo vai mais além, expropriam do povo seu modo de vida, seu território e sua cultura. Retiram dos braços da fé o Santo Miguel e distribuem os Milagres aos ricos e ao mercado.

Se por um lado os turistas veem riqueza e invejam o solo de São Miguel, por outro eles não sabem que a riqueza já tem seus donos, foi vendida e comprada por gente de outro país ou de gente de Estados vizinhos.

Não veem que ao povo sobra pouco, é distribuída as migalhas da abundância das festas particulares que acreditam nos milagres.

A quem o povo deve orar? Ao santo ou ao empresário? Quem habilita os milagres ao povo?

De certo não é a prefeitura. Pois a gestão municipal segue olhando para frente, fazendo cara de paisagem para a natureza que se destrói ao redor.

Os condomínios de luxo agora querem jogar seus esgotos ao povo, para que tomem banho nos excrementos dos ricos e comam peixes contaminados, e cheirem o suor da especulação do horror.

E se o povo decidisse lutar? E se, meus amigos, e se?

Uma resposta

  1. Parabéns pela sua colocação!!!
    O povo de São Miguel dos Milagres, como todo Nordestino, são um povo bravo e lutador, que não desiste fácil. E vamos sim lutar, com todas as forças para um São Miguel dos Milagres justo e para todos. Que o crescimento seja o melhor para o nosso povo, e não para os bolsos de alguns!!

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