A Dilma da bolsa

Sob o comando de Dilma Pena, a Sabesp, maior companhia de saneamento básico das américas, valorizou-se 49,5% neste ano. entenda esse fenômeno.

IstoÉ-Dinheiro

Os investidores costumam ser impiedosos em relação às empresas negociadas nas bolsas de valores. Ao menor sinal de perigo, não tem conversa, eles liquidam suas posições. Desde 2008, quando eclodiu a crise econômica global, esse tipo de postura defensiva vem sendo usada até mesmo em relação a gigantes globais, como Petrobras e Vale, cuja cotação das ações está longe de refletir o tamanho dessas corporações e sua importância relativa nos setores nos quais atuam. Nesse cenário, não deixa de ser surpreendente o desempenho da Sabesp, a maior companhia de saneamento básico do Brasil, controlada pelo governo de São Paulo e cuja receita líquida atingiu R$ 9,9 bilhões no ano passado.

72.jpg

Em Wall Street: Dilma (ao centro), presidente, e alguns executivos da Sabesp participam
da abertura do pregão da bolsa de Nova York, em maio deste ano.
Levando-se em conta o fechamento do pregão da quarta-feira 13, seus papéis subiram 49,5% neste ano, liderando o ranking de valorização entre as ações que compõem o Ibovespa, que reúne os papéis com maior liquidez da bolsa paulistana. No mesmo período, a Bovespa caiu 1,9%. Outro indicador é ainda mais marcante. No período 2002-2012, as ADRs da Sabesp negociadas na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) se valorizaram 601% ante uma alta de 23% do índice Dow Jones. De acordo com Dilma Pena, presidente da Sabesp, a empresa está colhendo os frutos de um trabalho iniciado em 1994, quando abriu o capital, e que vem sendo intensificado nos últimos anos.
“Para sobreviver no mercado tem de ser eficiente”, afirma Dilma. “É isso que temos buscado desde então.” Os números, de fato, mostram que a Sabesp vem conseguindo fazer mais com menos. O custo operacional médio do metro cúbico dos serviços de água e esgoto caiu de R$ 1,30, em 2002, para R$ 1,17, no ano passado. A Sabesp também foi beneficiada por outro fator. Em tempos de incertezas, é natural que os investidores procurem os chamados “papéis de defesa”, àqueles capazes de gerar um retorno constante. “O setor de saneamento possui uma proteção natural”, afirma o analista Alexandre Montes, especialista em infraestrutura da firma de investimentos Lopes Filho, do Rio de Janeiro.
“Até porque, o consumidor começa a ser cobrado cada vez que abre a torneira.” Para que essa equação apresente o resultado esperado, é preciso chegar até onde o consumidor está. O plano estratégico da Sabesp prevê a universalização do serviço de fornecimento de água e da coleta e tratamento de esgoto até 2018. Isso vale para os 363 municípios atendidos pela empresa que, juntos, possuem uma população de 27,6 milhões de pessoas. Para dar conta dessa tarefa, a Sabesp ampliou seus investimentos. A média anual dobrou de R$ 1 bilhão entre 2002 e 2007 para a faixa de R$ 2 bilhões nos últimos quatro anos.A empresa apresenta também os melhores índices de cobertura do Brasil em água, com atendimento a 99% das residências legalizadas em sua área de influência, coleta de esgoto (82%) e tratamento de esgoto (76%).
73.jpg

Dilma, a presidente: “A Sabesp vai deixar de ser uma empresa de obras
para atuar como prestadora de serviços”.
A média nacional situa-se em 83% no quesito abastecimento de água e 55% no tratamento de esgoto. A dúvida é: o que a estatal paulista pretende fazer após cumprir as metas de universalização em 2018? “Vamos deixar de ser uma empresa que investe pesado em obras e passar a atuar majoritariamente como uma prestadora de serviços”, afirma Dilma. Para isso, ela está tocando um ambicioso plano de diversificação, tendo por base os processos produtivos atuais. Por enquanto, quatro vertentes estão no foco da companhia: venda de água de reuso derivada do tratamento de esgoto, coleta e tratamento de esgoto industrial, produção de Gás Natural Veicular obtido como subproduto do tratamento de esgoto e a geração de energia ou vapor a partir do processamento do lixo doméstico.
No total, essas iniciativas deverão consumir investimentos em torno de R$ 600 milhões até 2013.Algumas dessas tacadas serão feitas em parceria com companhias privadas, além de consórcios envolvendo prefeituras do interior do Estado. O mais adiantado deles é o projeto da Aquapolo Ambiental, a maior usina de produção de água industrial do continente, que começa a operar em julho. Com capacidade para produzir volume correspondente ao abastecimento de 300 mil pessoas, a unidade vai fornecer o insumo ao Polo Petroquímico de Capuava, na divisa entre os municípios de Santo André e Mauá, na Região Metropolitana de São Paulo. A diversificação é bem-vista pelo mercado.
Os analistas estão avaliando as possíveis vantagens que poderiam ser geradas para a Sabesp, ao estender seus tentáculos para além das fronteiras de São Paulo e do Brasil – um sonho acalentado desde a época de seu antecessor, Gesner de Oliveira, que deixou o cargo em janeiro. Hoje, a Sabesp possui dois contratos de consultoria para evitar perdas. Um com a concessionária de saneamento básico do Panamá e outro com a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal). “É importante gerar receita em moeda estrangeira”, diz Dilma. “Até porque, boa parte de nosso endividamento é em dólar e iene.” O analista Pedro Manfredini, especialista para a América Latina em serviços públicos da subsidiária do banco JP Morgan, discorda: “A Sabesp ainda tem um extenso dever de casa para fazer antes de buscar novas oportunidades fora de São Paulo.”

.