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A decepção do 1° governador de Alagoas, irmão do presidente Deodoro

Um marechal que era monarquista dá um golpe de Estado e implanta a República em 15 de novembro de 1889. Deodoro da Fonseca assume o poder e os novos ventos também chegam a Alagoas, terra onde nasceu o primeiro presidente da nova República.

Presidentes das províncias agora são governadores, mas com funções de interventores. Obedecem ordens do marechal, naquilo que a história registra como a República das Espadas.

Na manhã daquele 15 de novembro, no próprio dia da Proclamação, Alagoas ainda era uma monarquia e recebeu seu último presidente da província: Pedro Moreira Ribeiro, que vinha substituir Manoel Victor Fernandes de Barros.

À tarde, os boatos do golpe chegaram a Alagoas. Prevenido, Pedro Moreira abandonou o cargo e pegou a primeira embarcação que saia do Porto de Jaraguá direto para o Rio.

De manhã, a elite alagoana era monarquista desde menina. À tarde, virou republicana desde sempre. A vida é assim.

Mas Alagoas estava sem comando. O clube republicano formou uma junta governativa. Nomeou Tibúrcio Valeriano em 19 de novembro que mal teve tempo de gozar as delícias do poder.

O atento marechal Deodoro tratou de escolher seu irmão, o coronel Pedro Paulino da Fonseca, para ser o primeiro governador republicano de Alagoas. Assumiu em 2 de dezembro de 1889.

Um coronel que nunca foi para uma guerra, nem a do Paraguai. Foi o escolhido pelos irmãos Deodoro para cuidar da matriarca da família e os outros parentes. Há décadas havia saído de Alagoas e morava no Rio.

Mas o irmão do generalíssimo presidente havia sido importunado naquele 15 de novembro. Foi um dos articuladores do golpe junto a outros militares, estava à frente das tropas com seu irmão, Hermes Rodrigues, além de Benjamin Constant e Major Solon.

O marechal Deodoro tinha graves crises de dispinéia e estava representado por Pedro Paulino, diante das tropas. Todos se preocupavam com o pior: a morte do marechal. Não morreu.

Em Alagoas, Pedro Paulino foi logo cercado pelos fervorosos republicanos de ocasião, antes monarquistas de carteirinha. Paparicado, coberto de jantares por quem buscava vantagens, Pedro Paulino não gostou da oposição à sua administração nas páginas do jornal maceioense O Orbe. Mandou arrebentar o jornal.

Militar por formação, acostumado a um regime único de ordens num quartel onde não havia vozes que discordassem dos superiores, Pedro Paulino se viu às voltas com o serpentário da elite alagoana. “Nota-se muito egoísmo e inveja entre os homens, também o prazer do descrédito, da calúnia, do pasquim e das cartas anônimas”, desabafou o governador mais adiante, arrependido de ter aceito ser o primeiro governador de Alagoas, por sugestão do irmão presidente da República.

O velho militar chocou-se em um dos jantares promovidos para ele em Alagoas. Tudo era indigesto: os imensos pedaços de carne assada na mesa, os discursos políticos onde havia ajustes de contas e provocações entre os lados “torneio de dize tu, que direi eu”. A baixaria rolava solta.

Além disso, quando tomou pé das contas públicas, viu cofres vazios, dívidas gigantescas. O primeiro governador de Alagoas ficou no cargo dez meses e uns dias.

Conseguiu pouco com as parcas finanças. Melhorou a Levada, foco de lixo e miasmas, construindo a praça da Intendência. Aterrou o pântano Sobral.

Instituiu a primeira comissão para elaborar a primeira constituição republicana. Os trabalhos terminaram em 15 de setembro de 1890. A comissão elegeu a primeira bancada para o congresso nacional republicano: 3 senadores e 6 deputados escolhidos. Um dos senadores suscederia marechal Deodoro. Era Floriano Peixoto.

O historiador Douglas Apratto Tenório, em seu livro A Metamorfose das Oligarquias registra que Pedro Paulino renunciou ao governo desgostoso. Antideodoristas o acusavam de acumular dois cargos, o de senador e governador.

Renuncia também ao Senado cansado da política.

“Morreu pobre, vivendo os últimos dias com as suas muitas lembranças e as amarguras que registrou em seu testamento político”.

O irmão-presidente também renunciou.

O Brasil não era um quartel.

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