Rodrigo Craveiro-Correio Braziliense
Os românticos diriam que o socialismo está entrincheirado em Cuba mais que na China. Cada vez mais aberta ao mercado mundial, a terra do Oriente tem cedido às tentações do dinheiro, tornando-se adepta de um comunismo capitalista. Três dias na ilha de Fidel Castro já foram suficientes para ter a percepção de que o regime se sustenta pela figura icônica de Ernesto Che Guevara, pela autoridade patriarcal do próprio Fidel e pela idealização da Revolução Cubana. Mas também pelo aparato do medo: alguns cubanos preferiram o silêncio e o anonimato a criticarem o sistema. Outros lamentaram que são impedidos de conhecer outros países e de expandir seus horizontes. Além de a economia estar arruinada, o que torna quase utópica a compra de bilhetes aéreos, o governo teme que seus cidadãos sejam seduzidos pelo consumismo e pelos ideários de liberdade.
Em Cuba, o slogan “Socialismo ou morte” parece ter sido impregnado pelo regime no imaginário popular. Durante uma volta pelo Malecón — o muro quebra-mar que se estende por 11km na costa de Havana —, fui surpreendido por demonstrações de resignação e de conformismo de alguns cubanos. Eles destacaram o caráter paternalista do regime, que lhes provê saúde de qualidade, emprego e moradia. Também elogiaram a sensação de segurança, provavelmente creditada ao nivelamento social. Ao mesmo tempo, era indisfarçável um certo mal-estar com a falta de liberdades civis.
A resistência parece ser a linha-mestra dos irmãos Castro. Prédios ainda seguem à risca os padrões arquitetônicos da União Soviética, duas décadas após seu colapso. Ao observar a frota de carros cubanos, a sensação é de voltar 60 anos no tempo. Relíquias no exterior, os Dodges, Fords e Buicks da década de 1950 são peças comuns no cenário de Havana. Até pouco tempo atrás, os cubanos eram proibidos de comprar carros. Os automóveis antigos ainda remontam à época anterior ao embargo imposto pelos Estados Unidos. A 160km de Havana, milhares de opositores ameaçam cruzar de volta o Estreito da Flórida e tomar o governo, tão logo Fidel morra. No fundo, o regime sabe que está com os dias contados. E tenta postergar seu fim, custe o que custar.