Recordo algumas conversas que tive com Alexystaine sobre as máscaras da violência em Alagoas, sendo ele uma vítima desta desde os 12 anos de idade, não tinha como poupá-lo das informações perversas que precisamos debater, divulgar, enfrentar; até uma possível vitória sobre as mortes impostas.
Ele, contudo, no auge dos 15 anos e ainda menino, respondia: “mãe, só você vê isso”!
Ele estava certo. Como uma mente recém saída da infância, ainda que sob o efeito devastador do trauma que viveu, poderia compreender o alcance da maldade humana? Ainda mais, numa história que envolve tantos doutores, como essa que cercou sua vida e sua morte?
Triste sina a de uma mãe como eu, que via isso tão sozinha!
Por mais que escrevesse em crônicas, versos e prosas; por mais que segurasse os microfones e dilatasse a dor e as ameaças diante das tribunas, somente eu via.
A imolação de Taine foi anunciada.
Entreguei ao Ministério Público de Alagoas um pedido de socorro para o caso que tramitava em Matriz de Camaragibe, e a comissão de Direitos Humanos, numa atitude corporativa apenas encaminhou meu clamor à Matriz, dando ciência do feito, sem nada fazer para averiguar ou compreendero que estava sendo dito.
Todos lavaram a mão e o sangue do meu filho escorreu por sobre a testa com ares de fatalidade.
Não importa se apenas eu vejo. Continuo vendo cada vez mais nitidamente.
Assim como acredito na continuidade da vida espiritual, não perco a fé na humanidade. Não nessa parcela de humanidade que veste toga e exibe anéis; não neste agrupamento que institucionalizou os Direitos Humanos por dinheiro e status quo; eu creio na humanidade que pulsa nas mães que choram enquanto caminham lutando por justiça.
Mesmo que a justiça não seja desse mundo, é daqui que ela deve brotar nas consciências e alargar espaços de discernimento.
Se não compartilhar pedaços dessa história estarei confinando minha contribuição à humanidade, ainda que exígua, válida pelo teor de verdade que porta.
Meu país é constituído de mentiras, que para manterem-se no auge, sacrificam vidas cotidianamente.
O orgulho dos coronéis tem o preço do sangue humano, dos sonhos juvenis, das alegrias familiares à mesa, tem o preço da saudade infinita que nos move.
A resistência dos que crêem, em contrapartida, tem sabor de ressurreição, de vitória da luta sobre a covardia moral, de amor incondicional que se entrega em risco pelo amado.
Assim sobrevivemos. A covardia mata o corpo, o amor afirma que não morre.