A Crise na Esquerda e seus impactos: um retrocesso doloroso

Por Ricardo Lima – jornalista

Hoje, a esquerda sofreu uma derrota que pode ter consequências duradouras. Uma manhã que começou com a tensão política costumeira, com a disputa eleitora em São Paulo em foco, foi agravada pelo noticiário: o Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, foi acusado de abuso sexual, com as vítimas sendo mulheres do governo, incluindo a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. O choque e a incredulidade tomaram conta. Como pudemos chegar a este ponto?

O cenário político atual, marcado por um ano eleitoral e pela polarização, já se mostrava frágil. A direita extremista segue tentando conquistar as cidades com discursos de pânico moral, enquanto a esquerda, que deveria ser o bastião da justiça social, se vê agora no centro de um escândalo devastador. A denúncia cai como um presente para aqueles que desejam desestabilizar o governo, que já é rotulado pelos opositores como “comunista” – como se ser comunista fosse algum agravo. Para eles, a revelação de um caso de abuso entre dois ministros negros de destaque é um prato cheio. Mais uma vez, pérolas são jogadas aos porcos.

Importante destacar que qualquer tipo de agressão contra a mulher é inaceitável e precisa ser investigada com a devida seriedade. Mas, além do caso individual, há um fator maior em jogo: a preservação de uma democracia frágil, que foi severamente ameaçada em quatro anos de desmonte institucional e negação da realidade. Esse escândalo, verdadeiro ou não, já cumpre um papel destrutivo no campo progressista.

A esquerda perdeu, e isso independe do desfecho das investigações. Mesmo que Silvio Almeida seja inocentado, o estrago está feito. A política brasileira verá dois ícones negros, fundamentais para a defesa dos direitos humanos e raciais, serem jogados aos leões. Almeida dificilmente terá clima para continuar no governo, assim como Anielle Franco, que será atacada tanto pela direita, que a vê como símbolo de fraqueza, quanto por setores da própria esquerda, que a responsabilizarão pela crise.

Enquanto isso, figuras como Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, “carniceiros” articuladores do poder legislativo, assistem ao desenrolar dos acontecimentos com grande interesse. Esses políticos, representantes de uma direita conservadora, esperam o momento certo para capturar ministérios e ampliar sua influência sobre o governo Lula, que, em muitos aspectos, já não se assemelha mais ao Lula de gestões passadas. O governo está cada vez mais à mercê das articulações da direita.

A acusação contra Silvio Almeida e o ataque a Anielle Franco não são meros episódios isolados. Eles representam a destruição de um sonho de construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A crise, se não for possível ser contida, abrirá ainda mais espaço para a escalada conservadora, que quer retomar o controle sobre o Estado e desmontar os avanços sociais obtidos com tanto esforço.

Em suma, a esquerda, que deveria ser o farol da resistência, caminha para um colapso, não apenas político, mas moral. Perde a esquerda, perde a democracia, e quem mais sofre são aqueles que acreditaram em um futuro diferente.

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