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A chantagem de Dallagnol

Agora se entende porque as prisões brasileiras são tão precárias. Elas fazem parte de um projeto. O cidadão teme passar dias ou anos por elas e não sobreviver. Ou assistir, a cada dia, a sua cabeça sendo destruída.

Daí ele aceita qualquer coisa em busca da fuga. E quando fugir é improvável, sobreviver dentro delas.

Não é à toa que nas prisões mais fétidas do país estão os bandidos mais pobres. Existe classe social no tratamento a estes bandidos na frente e atrás da jaula.

Bandido rico não sente o cheiro deste tipo de cadeia.

No caso da Lava Jato, a delação premiada- fartamente usada pelos venerandos procuradores da República de Curitiba- virou chantagem para que Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobrás e do Banco do Brasil, colocasse o terror de ser preso no Complexo Médico Penal em Pinhais (região metropolitana de Curitiba) acima de tudo. Por isso ele disse que aceitava a delação.

Não era para menos. No Complexo Médico Penal já houve denúncias de banheiros podres, lixeiras cheias de papel higiênico, portas imundas, sala de revista feminina com cabelos espalhados pelo chão.

Aldemir Bendine quis evitar ir para esta prisão, após ser ameaçado pela República de Curitiba.

Em 4 de agosto de 2017, Deltan Dallagnol escreveu assim no chat de procuradores: “Nunca uma transferência foi tão eficiente, rsrsrs”. A frase resume todo o sistema prisional brasileiro. Frase que vale por mil teses, pesquisas, estudos ou livros a respeito das carceragens e sua função social ou judicial.

Há anos advogados denunciam que a delação premiada, da forma como era usada pela turma de Deltan Dallagnol, envolvia decretos de prisão preventiva e pressão para investigados fecharem acordos de delação premiada.

Porque talvez eles saibam que o nome disso é chantagem.

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